Um debut que parece uma compilação do que existia dentro de uma gaveta empoeirada de b-sides que, não raramente, superam suas contra-partes… Eis o primeiro disco do Noel Gallagher, nosso Mini-Craque.
A lembrança de quando adquirimos este disco e fomos ao show da turnê que lhe acompanhou é especial, de carinho absoluto. Ouvimos, pra variar (mesmo com Gui, sem a menor cerimômia e vergonha, ter me falado que ficou 3 meses sem ouvir qualquer coisa relacionada ao Oasis. Mayra que nos diga sobre isso), no modo repeat e sobre o show, já compartilhamos um pouco da experiência por aqui no nosso site, vale demais o confere!
Num primeiro momento, notamos um disco diferente, apesar da estrutura adotada pelo Noel ser exatamente a mesma de sempre com o Oasis. A espinha dorsal harmônica se manteve, mudando apenas a dinâmica. Noel não ousou neste primeiro disco, mas já abriu campo para sua renovação artística, aos pequenos spoilers daquilo que viria em discos posteriores… What a Life já anunciava um novo caminho.
Neste registro, podemos dividir as músicas em três categorias; uma construída com elementos de Folk elétrico e Rock - Dream On, The Death of You and Me, Soldier Boys e Jesus Freaks. Num segundo momento, uma revisita forte às estruturas Oasis com If I had a Gun, AKA Broken Arrow, (Stranded On) The Wrong Beach. Por fim, ainda, aquelas com uma afirmativa levemente distinta, em coisas como Everybody's on the Run, (I Wanna Live in a Dream in My) Record Machine e Stop the Clocks.
Noel Gallagher tem suas influências muito bem delineadas, ouviu muito dos mesmos discos e sabe do que gosta diante uma gama diversificada, num trânsito frenético de épocas distintas. Sempre flertou com ondas diferentes e, diante delas, buscou sempre por algum ponto de encontro. Um exemplo perfeito neste sentido é sua paixão pela música eletrônica, onde, há muito tempo, já buscava pelo encontro com o Rock, basta olharmos a parceria lá atrás com os Chemical Brothers. Indo além, vale notarmos como o Kasabian sempre encheu seus olhos.
Finalmente, livre do fardo de sua antiga banda e de todo peso de compor para que ela funcionasse, Noel, agora, estava com as janelas abertas para se concentrar em fazer discos diferentes, saciando uma sede que todo artista, em tese, deve encarar… a de se renovar.
No geral, fez um esforço notável e as músicas refletem tudo o que faz de Noel um compositor especialista, genial. Se este fosse um álbum do Oasis, certamente as manchetes seriam no sentido de "Oasis está de volta à melhor forma". Esse não foi um disco do Oasis, apesar de toda fórmula que segue e dos fãs ansiosos. Não foi algo a se chamar de novo por completo, revolucionário, mas como já sugerimos aqui, o caminho se abria sem guardar maiores segredos, tinha uma áurea nova e o novo aqui é mais subjetivo do que objetivo.
Noel é membro do clube dos grandes mestres dos refrões. Alcançou esse patamar sem precisar de muitos artifícios e voltas diante uma mesma intenção. Noel Gallagher tem uma grande qualidade como artista, uma das que mais valorizamos; a simplicidade. Com o mesmo shape de acordes, Noel extraiu refrões de estádio, um atrás do outro, como leite de pedra. E não, isso não é desmerecer, muito pelo contrário, é afirmativa extremamante positiva, prova de que o compositor tem seu traço bem marcado e, diante os mesmos caminhos, conseguiu extrair ouro do mesmo solo… convenhamos, Noel nunca decepcionou, é um compositor de mão cheia, voz de gerações.
No entanto, existem pesares subjetivos. É muito comum um artista se frustrar diante uma previsibilidade que pode lhe assolar profundamente. Nos mantemos nessa questão. Quando o artista se sente previsível no campo harmônico de criação, é sufocante, desanimador, é de enjoar, de sufocar, de tremer nas bases da autoconfiança. A máxima de um artista deve sempre ser sua própria renovação. Noel, depois de muitos anos convencendo dentro das mesmas fórmulas, resolveu, finalmente, se renovar profundamente. Era preciso, já era passada hora e o reflexo disso tudo transparecia demais na sua volta de vontade, empenho e paixão pelo Oasis. Era o momento de algo novo, de encontrar algo que lhe faltava.
Como ele mesmo disse sobre os novos caminhos, nunca esperou que fãs do Oasis fossem curtir suas novas músicas. Em algum momento, ainda mais quando ocupando seu patamar, isso iria falar mais alto… se não em 2009, seria em 2015 ou 2018. Isso é mais do que natural. Não é sobre o que agrada mais ao público, estamos nos voltando para imagem de Noel Gallagher como artista, é sobre o que lhe agrada mais como compositor. Notar a trajetória de um artista ao longo de sua discografia é um dos maiores prazeres que um fã de música pode desfrutar. Olhar para os novos caminhos criativos é dádiva para quem pira em música. Aos que levam música como assunto sério, repetimos, isso não tem preço. É um deleite, uma maravilha, é onde mora a graça de tudo. Ansiamos em ter algo de novo, não apenas maquiagens àquilo que sempre foi feito por anos e anos… e anos.
Noel é um queridinho de nossa primeira prateleira. Isso nunca foi segredo. Notar que esta fera ainda se mantém ativo e não somente em frente da TV assistindo Seinfeld e a Premier League… leitores e leitoras, é grande dádiva. Queremos justamente isso, que nossos heróis, que ainda estão entre nós, se mantenham ativos e se encontrando diante novos caminhos.
Se as coordenadas da bússola do Noel Gallagher são de agrado aos fãs de seu passado, bem, isso é uma outra questão. Quando voltarmos a falar dessa grande figura, já estaremos dentro de seu novo campo com sua entrega completa, não apenas há poucos passos.
Somos loucos por esse bom e velho camarada!
- Gui Freitas e Gus Maia
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