Grande rockstar desse país e membro da Cachorro Grande, que talvez tenha sido uma das últimas bandas de Rock por aqui consolidada s pelo tempo e, muito provavelmente, a última das que lideraram um expressivo movimento na cena. Artista bem relacionado e muito querido pelo seu público, hoje é dia dele, Beto Bruno, que traz consigo seu mais novo disco solo, "Depois do Fim".
Sua extensa carreira com a Cachorro Grande marcou grande parte de uma geração e nos incluímos nisso. Por vezes, um artista pode nem ter dimensão do que ele pode causar, positivamente, na vida de um fã, a influência que traz para o bem e toda essa coisa. Particularmente, abraçamos com toda satisfação aos integrantes dessa banda tanto em carreiras solo, quanto na Cachorro Grande, quais foram trilhas por muitas noites memoráveis.
Nunca é fácil terminar uma banda, um ciclo. É muito difícil para nós, que estamos de fora, compreender plenamente o que ocorre diante cada hiato, tal como os problemas que assombram carreiras que se desencontram pelo caminho, por mais que em intervalos acordados. Talvez, nem mesmo as próprias bandas são capazes de entender. Com a Cachorro Grande, Beto Bruno gravou oito discos de estúdio, rodaram país afora, abriram shows do calibre de Oasis e The Rolling Stones, foram aos melhores programas de TV e, certamente, colecionaram muitas outras experiências memoráveis à uma banda de longa estrada.
A Cachorro Grande foi uma banda que conseguiu fazer Rock num país totalmente carente de tudo, principalmente de cultura, de som e de qualquer que seja algum incentivo ao artista. A banda era, de fato, um Cachorro Grande, valente ao que viesse e isso nos inspira demais como brasileiros.
É muito difícil viver de arte no Brasil, tal como em qualquer lugar do mundo. Isso já chega a ser um clichê desses que se repetem em modo automático. Pois é, a coisa é complicada. Agora, imaginem, viver de música, de Rock’n’Roll. Não é qualquer coisa. Estamos falando de som pautado em Stones, Beatles, Oasis, Kasabian, Supergrass, Kula Shaker, Happy Mondays, Stone Roses, The Faces, The Who… é som de Cachorro Grande!
Sempre nos impressionou a capacidade da Cachorro Grande fazer a língua portuguesa soar tão bem diante tanta influência do mundo afora. A língua portuguesa é difícil de trabalhar, essencialmente, pela sua extrema riqueza como linguagem. A língua é rica demais, são tempos e mais tempos verbais, possibilidades e mais possibilidades, são muitas variantes em sons, muitos “ãos" e “inhos”, muita coisa que pode ser quadrada para uma harmonia de Rock, que geralmente é direta ao ponto por natureza e talvez sofra ao encaixe. A Cachorro Grande faz isso muito bem, soa bem demais. É muita prepotência de nossa parte querer falar exatamente sobre quais fontes saciaram a sede da Cachorro Grande ao longo de todos seus processos criativos, mas, no entanto, imaginamos. Não sabemos se é tão natural para eles quanto para nós ver esse obstáculo no processo de composição, mas, sem qualquer desvio, é um mérito absoluto da banda.
Outro ponto que merece total reconhecimento são os discos como conceito. O som de tudo é muito bem gravado. Tudo bem buscado, os timbres são bons demais, fazendo com que toda referência mostre seu valor no final das contas. Como as grandes bandas, podemos ver claramente sua evolução. A busca pelo conceito em cada disco, a nova aventura disco após disco, enfim, o renascimento e toda entrega à cada novo trabalho que se propuseram conceber. Inclusive, falaremos mais detalhadamente sobre isso numa matéria exclusiva sobre a Cachorro Grande.
Voltemos ao disco do Beto, "Depois do Fim", seu debut, lançado em 23 de agosto de 2019 e que conta com 10 faixas, mesclando diversos elementos, novas sonoridades ao que vinha fazendo, guitarradas e linhas de baixo muito bem amarradas à batera. Toda a idéia de muita influência dos 60's e, principalmente, dos 70''s, se mantém. Tempos que, naturalmente, sempre fizeram a cabeça do Beto Bruno.
A capa idealizada por sua esposa, Denise Gadelha, reflete música tema do disco na qual podemos nos deliciar com um refrão pegajoso: ”Existe um lugar/ Para renascer/ Para despertar/ A minha voz". A faixa ganhou um clipe onde Beto passeia por ruas e praças, tirando fotografia das pessoas, ao passo que é fotografado por elas.
“Por Isso Meu Samba é Diferente” é expressiva, remete carnaval, a vibe de quem alimenta a cena garantindo seus ingressos nas arquibancadas, além da menção ao show dos Rolling Stones no estádio Beira Rio. “Marlon Brando, Beatles e Pelé” cita três ídolos em experiência lisérgica. "Porco Garrafa”, sétima faixa, é uma viagem total, talvez o grande destaque do disco para nós. Além de “Depois do Fim”, o disco traz outra balada, “A Mais Linda do Verão", faixa em total clima de amor, perfeita para um fim de tarde na beira do mar.
A faixa-título é assinada, também, pelos irmãos Sebastião (que integra a banda de Beto) e Théo Reis, filhos do compositor Nando Reis. Na produção geral, o trabalho conta Esteban Tavares (guitarra, baixo e produção) e Pedro Pelotas (produção, piano, piano elétrico, órgão, cravo, sintetizador e guitarra). Time forte.
No último primeiro de maio, Beto Bruno lançou um disco ao vivo no Estúdio Showlivre, tocando todo o disco na íntegra e, ali, podemos nos deparar com um Beto Bruno realizado em seu trabalho.
Ficamos na torcida desde sempre pelo sucesso desse músico sensacional, que tanto gostamos de ouvir. Sem falar que, rockstars brasileiros como ele, nos dias atuais, são, indubitavelmente, espécie em extinção. Que sempre siga à risca o que já citou em letras mais antigas: “faça seu som e esqueça o que irá acontecer”. Siga firme e avante, Beto. Assim que tudo passar, nós, aqui da Troque o Disco, estaremos de perto pra conferir o som desse disco ao vivo.
- Gui Freitas e Gus Maia
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