Os rumores ao nome de Robert Johnson, de Hazlehust, Mississippi, são incontáveis. O jovem franzino, rejeitado pela vida e ao que lhe cerca, problemático e completamente sem futuro, numa bela madrugada, resolve, num trato com o diabo, trocar sua alma pela possibilidade de tocar o Blues como ninguém, jamais, haveria de ter tocado.
Talvez este seja o rumor mais atraente e curioso de toda sua existência, além de, claro, ser uma das lendas mais difundidas da história da música.
No entanto, há rumores menos místicos sobre o bluseiro. Testemunhas oculares de seu tempo afirmam que Robert era um sujeito muito complicado. Beberrão e mulherengo, o Sr. Johnson era sinônimo de problema por onde passava.
Os rumores não param por aí… também há quem diga que Robert Johnson era um sujeito pacato, que não seria capaz de atentar para contra, nem mesmo, a vida de um inseto. Alguns sugerem tranquilidade em vida, olhos que enxergariam um jovem interessado, principalmente, em música, influenciado por seu padrasto, Charles Dodds.
De toda e qualquer forma, não resta a menor dúvida de que Johnson era um sujeito plural, de facetas. Ao que parece, nem o jovem Robert seria capaz de saber sobre si mesmo, com ou sem toda dimensão que seu nome hoje se projeta ao mundo.
Robert Johnson deixou apenas três fotos, tiradas em singelas cabines fotográficas, na empoeirada Memphis, Tennessee. Sobre as músicas, foram apenas 29 para nós. Sim, isso foi o suficiente pra tudo ser colocado de cabeça pra baixo. De Robert Johnson, o Blues passou a ser aquele das 12 Bars, compasso que fez o Rock and Roll, também, um dia nascer, sem sequer sonhar em estar na barriga de sua mãe, a eletricidade das guitarras.
Não nos cabe elencar os nomes influenciados por Johnson. O mundo e toda música moderna vieram de Johnson. Quem nunca ouviu falar em Robert Johnson, acredite na aposta de que também é influenciado por ele. Talvez esse seja, de fato, o maior misticismo de Robert Johnson. Todos sofrem os efeitos de sua definitiva influência.
Inafastável é a condição de que ele foi uma das grandes mentes musicais do século XX e de suas respectivas décadas, 20's e 30's. Apesar da violência às condições raciais que perduram até hoje, a persistência da família e o poder da música fez com que Robert tivesse, mesmo que muito depois, toda essa notoriedade universal. A música de Johnson é de uma base sólida. Tudo que vier daqui pra frente, conta com os pilares da música de Robert Johnson. É como um mistério científico. Sua música avança por séculos. O século XXI é uma realidade fincada ao som de Johnson, já é a segunda marca secular de Johnson.
Sendo agressivo ou pacífico, complexo ou de simples personalidade, a lenda de Robert Johnson, metafísica da encruzilhada ou da mais cética nos efeitos que causou à música, continuará a nos trazer curiosidade.
Robert, apesar de sua lápide, nem mesmo consegue sacramentar sua data de nascimento que, por registros escolares e alguns outros documentos, nos colocam em dúvida diante outros números. O que é muito normal até hoje, em 2020, onde os mais pobres não conseguem, de forma nada incomum, nem registro algum ter. Imaginemos naqueles tempos, com toda segregação racial extremamente agressiva, falta de tecnologia e pobreza. Afinal de conta, estamos falando de fatos com mais de cem anos transcorridos.
Talvez o diabo tenha vindo cobrar a dívida de Robert Johnson em agosto de 1938, quando ainda ostentava a juventude dos 27 anos. Sim, Robert também pertence ao amaldiçoado clube dos 27… ou pelo menos alguns podem crer ou não nisso.
A fantasia sobre Johnson nunca terá fim. Muitos acreditam que seu corpo foi encontrado na mesma encruzilhada do trato de alma com o diabo. Outros sustentam que Robert apenas desapareceu e nunca mais voltou. Os céticos dizem que, em uma de suas derradeiras bebedeiras, foi envenenado pelo dono do bar onde se apresentava por vez ou outra… o proprietário teria se motivado pela traição de sua mulher com o blueseiro.
O veneno que Johnson teria ingerido seria estricnina. O diabo talvez até tenha lhe ajudado a se recuperar do veneno, mas frágil em condições de sáude, teria sucumbido à pneumonia, no ano de 1938, em Greenwood, Mississippi.
Robert Johnson, em verdade, com ou sem diabo, era um virtuoso. Não é nem um pouco natural um único sujeito, completamente sozinho, ser tão expressivo à música. A música se transmuta diante movimentos, décadas em suas tendências e incontáveis artistas em contribuição. Robert Johnson era apenas ele e, talvez, o diabo.
Existem relatos de que semana após semana, ele surgia cada vez tocando mais e mais. Sua técnica se apurava em períodos muito curtos de tempo… isso se comprova em sua música se comparado ao tempo de vida. Toda sua contribuição e efeito tornam esse prisma incontestável.
Diante tudo isso, não é nenhuma loucura colocar uma força mística no meio. O palpite do diabo não seria, aos crentes de forças sobrenaturais, nenhum absurdo.
Sozinho ou com o diabo, Robert Johnson moldou a música como conhecemos hoje. Ele se aprimorava sozinho, se apresentava sozinho e gravava, também, sozinho… ou não, como já sabemos.
Robert Johnson é um folclore mundial. Hoje podemos viajar diretamente para uma zona transcendental diante suas 29 heranças. Imaginem se pudéssemos viajar no tempo e nos colocar flutuando pelos ecos daquelas paredes que cercavam Robert Johnson durante suas gravações… mas tudo bem! Temos isso pra ouvir e já é um privilégio!
Temos as canções de Robert para sempre. Nelas podemos ouvir o jovem Robert Johnson diante um único e primitivo microfone, ligado num rolo de fitas reaproveitadas, com seu violão e, talvez, também, claro, com o diabo.
Robert Johnson, de vida curta, muito entornou no bar Pee Wee’s, em Memphis. Com toda certeza, como todo músico, Johnson nunca foi pacato. Hoje, mais de 100 anos depois, continua não sendo pacato. Até hoje, em pleno ano de 2020, Robert Johnson continua a nos brindar.
- Gui Freitas e Gus Maia
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