Devastador. Se existe um adjetivo para definir “Aftersun”, é esse. Um filme sobre afeto, amor, cumplicidade e a insistência em afastarmos esses sentimentos do nosso convívio com as demais pessoas.
Além disso, é uma obra sobre a ordem natural das coisas, dos acontecimentos implacáveis da vida. De cada pequena tragédia que compõe a existência de todos os seres humanos.
Sophie e seu pai Callum (em uma sinergia incrível de Frankie Corio e Paul Mescal) vivenciam uma viagem de férias que, anos depois, seria extremamente reveladora para Sophie.
Em meio aos fragmentos de memória dessa viagem, Sophie, já adulta, tenta entender o real significado de sua relação com seu pai, do corte abrupto sofrido por essa mesma relação no decorrer da própria vida, e de como os acontecimentos decorrentes dessas férias impactaram totalmente o seu mundo adulto.
“Aftersun” não é um filme palatável, nem mastigado. É todo construído em sutilezas, seja pela direção sensível de Charlotte Wells, seja pela impactante atuação de Paul Mescal, ou a vivacidade tenaz impregnada pelo carisma de Frankie Corio.
Entretanto, o que realmente conta é a mistura de todos esses elementos, e a forma como eles são inseridos na própria vivência do espectador. Caso vocês não tenham sucumbido às agruras e durezas da vida cotidiana, esse filme, certamente, vai mexer com os sentimentos mais profundos.
Como todo bom filme, a trilha sonora escolhida a dedo colabora para que o longa atinja seu objetivo com louvor. As cenas que trazem “Tender” e “Losing My Religion” (respectivamente, do Blur e do R.E.M.) são especialmente cortantes e capazes de fazer você perder o controle das próprias emoções.
Um filme extremamente universal para refletirmos sobre a presença e a ausência dos seres humanos amados e, principalmente, da nossa própria memória. Além de tratar a depressão com a veracidade que o assunto merece.
Essa obra já nasceu clássica e, sem sombra de dúvida, desponta como um dos melhores filmes de 2022 e, também, desse milênio.
-Hique Marine