Round 6 – Temporada 3: Não Odiamos os Jogadores, mas já chega do jogo
- Troque o Disco
- 27 de jun.
- 6 min de leitura
O antigo fenômeno global da Netflix chega ao fim (será?) com uma temporada confusa, insatisfatória — e uma participação especial enigmática.
Antigamente, uma participação especial na cena final de Round 6 teria sido emocionante, e muito condizente com o status do drama da Netflix como a maior e mais comentada série do planeta. Mas agora — após uma segunda temporada que pareceu existir apenas porque seu criador foi mal pago ao fazer a primeira, e uma terceira temporada lenta e decepcionante — a cena soa mais como uma lembrança nostálgica do sucesso que a série foi em seu primeiro ano.

Ou, talvez, como uma tentativa cínica de manter a franquia viva, mesmo com o claro desinteresse do público desde a segunda temporada. Mas voltaremos ao Convidado Especialíssimo e ao que sua presença pode ou não significar para o futuro de Round 6. Antes, precisamos falar sobre o anticlímax que foi essa temporada até esse ponto.
Este texto contém spoilers da terceira e última temporada de Round 6, já disponível na Netflix.
O problema da segunda temporada não foi apenas que Hwang Dong-hyuk parecia ter esgotado o que tinha a dizer sobre desigualdade de renda e a monstruosidade dos ultrarricos, expressas nas versões violentas e grotescas de brincadeiras infantis pelas quais os jogadores — endividados — competiam.
Foi que a decisão de dividir uma ideia pensada para uma única temporada destruiu o ritmo implacável e a tensão que tornaram a primeira tão envolvente, mesmo com sua temática sombria. Jogos que antes começavam e terminavam em um único episódio agora se arrastavam por dois, ou simplesmente não aconteciam. E a temporada gastava um tempo absurdo com votações dos sobreviventes decidindo se continuavam no jogo ou dividiam o prêmio igualmente.
De alguma forma, a terceira temporada insiste ainda mais nas votações. Tem voto no primeiro episódio. No terceiro. No quinto. Em certo momento, os jogadores param no meio de um jogo para votar. É impressionante o quanto de tempo é dedicado a isso — principalmente porque sabemos que o jogo não pode terminar antes da hora, ou não haveria mais temporada.
Em uma das votações, a câmera corta para o luxuoso camarote onde os bilionários VIPs acompanham e apostam nos jogos, e um deles realmente diz: “Assistiu à votação este ano? Muito divertida!” e outro, emenda: “Mais emocionante que os jogos em si!” É difícil saber se Hwang está sendo irônico ou se é um comentário direto sobre as concessões feitas à Netflix para ter mais episódios diluídos por mais tempo. Seja como for, essas votações drenam toda a energia da série — e ela nunca mais se recupera totalmente.

Seis meses se passaram desde a segunda temporada — o que, hoje, é quase um intervalo curto, considerando que séries grandes (como a própria Round 6, entre a 1ª e a 2ª) somem por anos. Ainda assim, seis meses é muito tempo para lembrar quem é quem numa série com dezenas de personagens, muitos deles usando os mesmos macacões ou máscaras.
Lee Jung-jae continua marcante como Seong Gi-hun, nosso protagonista desde o início. Alguns novatos logo se destacam, como a personagem trans Cho Hyun-ju(Park Sung-hoon) e a dupla mãe e filho Jang Geum-ja (Kang Ae-shim) e Park Yong-sik (Yang Dong-geun). Mas muitos dos conflitos dependem de relações passadas que exigem um vídeo explicativo no YouTube ou um guia da Wikipédiaaberto para acompanhar.
Um momento chave do episódio final envolve Park Min-su (Lee David) tendo uma alucinação com um jogador que ele deixou morrer na segunda temporada — cena que perde impacto se você não lembrar quem é quem.
E, de forma estranha, a maioria dos finalistas — tirando Gi-hun, o bebê sob seus cuidados após a morte da mãe, e o pai da criança, o cripto-trambiqueiro Lee Myung-gi (Im Si-wan) — são personagens pouco desenvolvidos, o que esvazia qualquer emoção nas traições inevitáveis da reta final.
Quando Gi-hun se suicida para garantir que o bebê (agora um "jogador" no lugar da mãe) sobreviva, o momento deveria ser grandioso — especialmente com a atuação impecável de Lee Jung-jae —, mas a temporada é tão sem fôlego que o impacto da cena, e de suas últimas palavras ("Não somos cavalos! Somos humanos! E humanos são..."), acaba sendo menor do que deveria.
Mesmo os subplots de ação envolvendo personagens fora do jogo não resultam em muita coisa. A desertora norte-coreana Kang No-eul (Park Gyu-young) invade o escritório do Front Man, também conhecido como Hwang In-ho (Lee Byung-hun), para queimar todos os registros dos jogadores — mas isso não serve de nada, porque In-ho explode toda a base do jogo ao descobrir que seu irmão policial, Hwang Jun-ho(Wi Ha-joon), localizou a ilha e trouxe a guarda costeira até lá.
Jun-ho chega a apontar uma arma para In-ho, mas não atira — e não está claro se é porque In-ho está segurando o bebê no colo ou porque, mesmo depois de todas as atrocidades que viu seu irmão cometer, Jun-ho ainda não consegue matá-lo.
O epílogo é relativamente discreto: vemos que No-eul sobreviveu aos ferimentos e conseguiu uma pista sobre a filha que acreditava estar morta. In-ho deixa o bebê — e todo o prêmio em dinheiro, já que tecnicamente é o vencedor da edição atual do Squid Game — sob os cuidados de Jun-ho, e viaja para Los Angeles com o intuito de entregar o que restou dos ganhos de Gi-hun do jogo anterior à sua filha distante.
Nenhum castigo recai sobre ele, nem sobre os VIPs, os guardas ou qualquer outra figura da organização. Isso talvez combine com os temas centrais que Hwang queria explorar, mas é dramaticamente insatisfatório para uma série com uma estética tão pulp e exagerada.
Enquanto In-ho está sendo levado de carro para longe da casa da filha de Gi-hun, ele ouve um som familiar vindo de um beco próximo e vê uma mulher de terno jogando Ddakji com um homem que claramente está em situação de pobreza extrema — assim como estavam Gi-hun e os demais quando entraram no jogo.
In-ho se surpreende ao ver aquilo, sugerindo que nem mesmo ele, com sua alta posição na organização, sabe tudo o que está acontecendo. Ele troca olhares com a nova versão da "recrutadora" que ele mesmo já empregou, e ela é...
a vencedora de dois Oscars Cate Blanchett. Ela encara In-ho com frieza — não se sabe se ela reconhece que estão, de certo modo, do mesmo lado —, mas está claro que ele está bem vestido demais para ser um possível participante. Em seguida, ela volta a dar tapas no novo candidato, toda vez que ele erra no jogo.
Por que Blanchett está aqui? Ela é apenas uma grande fã da série? Pediu ao seu agente para aceitá-la em qualquer papel que envolvesse ternos? (Ela não levou o terceiro Oscar por Tár, mas talvez o figurino já tenha sido recompensa suficiente.) Ou será que isso é só a Netflixmostrando que consegue chamar uma estrela de cinema consagrada para fazer uma ponta no final de uma de suas maiores produções?
Ou será que Blanchett está aqui para lançar Round 6: Los Angeles?
Por ora, uma fonte próxima à produção disse que o final não foi planejado para abrir novas histórias "neste momento", uma frase flexível que pode significar qualquer coisa. Talvez esse “momento” seja “julho de 2025”, e após os fogos de artifício do Dia da Independência, a Netflix anuncie um spin-off americano. Talvez seja só uma ideia guardada na gaveta, caso as cópias de Yellowstonecomo Ransom Canyon e O Píer não consigam manter a base de assinantes depois que os grandes sucessos como Round 6 e Stranger Thingschegarem ao fim.
Ou talvez seja apenas uma participação divertida de uma fã famosa — e também uma forma de Hwang Dong-hyuk deixar claro que esse tipo de pecado não desaparece tão facilmente da Terra.
O Round 6 talvez precise desaparecer da Coreia do Sul por um tempo, mas há pessoas pobres em todos os cantos do mundo, sentindo o peso de um sistema opressor que existe para beneficiar quem aposta em esportes sangrentos (e que, por algum motivo, se empolga muito com votações). Não faz tanto sentido essa nova recrutadora usar o Ddakji, em vez de um jogo mais tipicamente americano, mas muita coisa na série não deve ser levada ao pé da letra.
Round 6 sempre pareceu planejada como uma obra curta e autossuficiente. Mas foi criada numa indústria onde o sucesso inevitavelmente leva ao excesso — e onde um sucesso raramente tem permissão para sair de cena quando isso faz mais sentido criativo.
A ideia da série não parece ter sustentação para virar franquia — como já vimos com Round 6: O Desafio, um reality show que ignorou completamente o propósito da obra original. A cena final sugere que, enquanto houver pessoas desesperadas, sempre haverá espaço para um novo jogo. E enquanto houver executivos de streaming igualmente desesperados, sempre haverá a chance de um spin-off desnecessário — mesmo que, por enquanto, nada esteja oficialmente nos planos.
FONTE: ROLLING STONE
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