1- Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida, Rita Lee
Nas últimas quintas-feiras, trouxemos clássicos nascidos no ano de 1972 e hoje é o dia que encerramos essa linhagem. Hoje É O Primeiro Dia Do Resto Da Sua Vida, de Rita Lee, fecha o que seria o quarteto fantástico daquele ano memorável para a música nacional. Segundo disco da sua carreira solo, tem créditos da nossa rainha, porém com totais pegadas dos Mutantes, talvez pelas gravações terem acontecido na mesma época de "Mutantes E Seus Cometas No País Do Baurets". Pelo que pesquisei, a gravadora Polydor recusou-se a publicar dois álbuns dos Mutantes em um mesmo ano, logo a banda decidiu dar exclusivamente a maravilhosa Rita Lee o papel vocal e publicar o álbum em seu nome.
O disco é muito mais experimental e agradável do que sua estréia solo, em Build Up, de 1970. Com bateria forte e instrumentação vívida, as vezes estranho, mas muito criativo ao ponto de por em dúvida se esse álbum seria melhor do que qualquer coisa já feita com Os Mutantes. São 10 músicas em 35 minutos, ficando bem perceptível pianos clássicos, rock difuso e sons da natureza, como por exemplo na canção Frique Comigo.
Particularmente, chamar esse disco de solo é um pouco incorreto, mas definitivamente coloca Rita Lee em primeiro plano e daí pra frente já sabemos o que aconteceu com a nossa rainha. Esse foi mais um grande feito deste importante ano de 1972. Qualquer fã da música dos Mutantes ou do rock psicodélico deve encontrar um grande prazer em ouvir o disco Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida.
2- Expresso 2222, Gilberto Gil
A Tropicália foi um dos maiores movimentos já ocorridos na música do nosso país, de uma magnitude e beleza que varreu o Brasil no final dos anos 1960. Foi um desabrochar vívido e multidisciplinar, variando da poesia ao cinema, do teatro às artes visuais, a abordagem ousada e aventureira da cena sobre a música popular brasileira que mais fez barulho no mundo. Liderada por Caetano Veloso, Gilberto Gil e Gal Costa, jovens que já influenciavam novos nomes como Tom Zé e Os Mutantes. A Tropicália combina sons de rock'n'roll e jovem guarda com outros ritmos nativos do país.
Essa introdução é para falar que hoje estreamos Gilberto Gil na nossa página, com o disco Expresso 2222 de 1972, que marcou a volta de Gil após um exílio. Aquela psicodelia das suas gravações do final dos anos 60 ficou para trás, Expresso 2222 tem uma sensação funky, marchinhas de carnaval, baião, forró, jazz e rock que combina perfeitamente com o trabalho percussivo de sua guitarra e entrega vocal comovente.
Menos experimental, mais coeso, uma verdadeira obra prima. Uma coisa eu posso afirmar, esse álbum é obrigatório pra você que curte boa música. Gilberto Gil bebeu ao menos um copo da água dos Beatles e Jimi Hendrix, sua guitarra é algo bíblico, seus vocais são formidáveis.
Gravado pela Philips, o disco conta com ajuda de saudosos nomes como: Dominguinhos, Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Vejo um artista que trouxe muita bagagem durante seu exílio em Londres, mas fazendo uma bela homenagem a sua terra. Arranjos pra lá de criativos, como o uso de um coro de backing vocals com grande efeito em O Canto da Ema. 2222 é atual e viverá para sempre.
1972 foi um dos melhores anos para música nacional. Verdadeiros tesouros absolutos.
3- Acabou Chorare, Novos Baianos
A obra de arte, se assim podemos chamar, teve forte influência de João Gilberto. Tem algumas pegadas de bossa nova, consistindo em explorações das composições do grupo em ambientes acústicos e elétricos, com frescor e originalidade. O álbum traz algumas canções importantes, entre elas Brasil Pandeiro, um grande abre alas, clássico de Assis Valente, rejeitado por Carmem Miranda, que trata da valorização da música brasileira pelos americanos. Com sonoridade única, Tinindo Trincando é possivelmente o casamento mais sublime e cinético de rock, funk e ritmo brasileiro já registrado em um disco. Preta, Pretinha é hino absoluto.
O disco não ficou popular somente no Brasil, teve grande espaço na Europa. Moraes Moreira dava ritmo ao grupo e a maravilhosa Baby Consuelo possivelmente tinha a voz mais sexy da década de 70. Música pura brasileira, criatividade exacerbante, daqueles discos que deixam gringos de queixo caído, impossível não amar. Gravado por Moraes Moreira, Paulinho Boca de Cantor, Baby Consuelo, Luiz Galvão, entre outros. Tudo aqui é colorido e revive, em fantasias inconstantes, viagens em recantos privados ou entre febres compartilhadas e fervorosas.
Disco bom toca sempre,é regravado por uma nova e boa galera que surge no país, toca na rodinha de amigos, essa última é o meu caso, o brother Felipe Mendoças é daqueles que sempre que nos encontramos pega sua viola pra tirar algo do Acabou Chorare. Disco bom é assim, influência duradoura.
4- Clube da Esquina, Lô Borges e Milton Nascimento
Um dos mais poderosos discos da música brasileira de todos os tempos, Clube da Esquina provavelmente mexa com muitos de vocês, é disparado um dos mais importantes da minha vida. A Troque o Disco vem celebrando todas as quintas uma série de 4 masterpieces nascidos no ano de 1972.
O tanto que já ouvi este disco e já fiz questão que amigos tocassem em noites memoráveis na minha casa, não está escrito. Todos sabem do amor que tenho por Lô Borges e Milton Nascimento. Desde que conheci suas músicas sonhei em encontrar essas duas chaves elementares desse movimento, por mais que tenha grande sorte em relação a encontrar meus ídolos, sabemos da loteria que é. Em uma noite que antecedia meu aniversário, tive a honra e o prazer de encontrar o Lô num show regado a muitas músicas do Clube da Esquina. A perna tremeu, o coração bateu mais forte e um pedaço do sonho foi concluído, Lô me esperava de braços abertos e com aquele sorriso marcante, alguns minutos de papo e tudo que eu achava sobre esse artista tive certeza. Que eu tenha a chance de ganhar na loteria novamente, dessa vez com Milton.
Evitei ao máximo falar da história mais que conhecida do clube aqui, sinto que boa parte dos meus queridos leitores estejam familiarizados com ele, pelo simples fato da sua grandiosidade.
Além dos dois já citados acima, Beto Guedes, Márcio Borges, Toninho Horta, Wagner Tiso entres outros, completavam aquele time que se reunia para beber cerveja e adorar Lennon e McCartney.
Refrescante como uma Coca Cola gelada após um dia marcando 40 graus ou gentil como um simples bom dia no elevador, essa é a reverberação interna ao ouvir esse LP duplo, sempre que ouço quero ser melhor. Clube da Esquina, te amo pra sempre! Esses são os 4 tesouros da música nacional do ano de 1972.
- Gui Freitas
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