Live
Pela primeira vez, trazemos um disco ao vivo para ser tema do dia. Porém, não é um simples disco, mas um importante capítulo nacional.
Meses antes de termos uma nova constituição, em 1988, o Titãs subiu ao palco do lendário festival de Jazz de Montreaux, Suiça, onde podemos assegurar, que foi uma histórica apresentação.
Reza a lenda que o guitarrista Tony Belloto chegou a conhecer Jimmy Page durante os ensaios da banda num estúdio de Londres. Pediu que Jimmy autografasse sua Gibson Les Paul, com uma chave de fenda, para que as letras nunca desaparecessem de sua guitarra.
Não passa em branco a fantástica idéia da capa e contracapa do disco, com fotos de todos integrantes do grupo ainda crianças. Ali se revelava o forte time dos Titãs.
Montreaux não foi tarefa fácil, com outros equipamentos e não tendo roadies ao tempo da passagem de som, os percalços dos caras iam surgindo. No setlist, o grupo resolveu ressuscitar faixas que não emplacaram nos dois primeiros álbuns, dando novos arranjos e, além disso, contando também com maravilhosas faixas do estrondoso disco Cabeça Dinossauro, supra sumo do Rock nacional, que, por sinal, já trouxemos tempos atrás por aqui.
Go Back se tornou um dos destaques de discos ao vivo do Brasil, com Radio Pirata, de 1986, e Alívio Imediato, de 1989. Se gravado com o calor do nosso público, seria ainda melhor. Talvez a banda tenha feito isso no Hollywood Rock, afinal, lotavam todos lugares que passavam.
Em 1989, gravaram O Blesq Blom, derradeiro álbum com a produção do 9º Titã, Liminha.
As Quatro Estações
As Quatro Estações, de 1989, da Legião Urbana, é nosso assunto de hoje. Ganhei esse disco ainda criança. Legião Urbana é especial pra mim, sou apaixonado por essa banda e ainda que não escute tanto, quando ouço, mergulho por um tempo.
O quarto disco de estúdio talvez seja o mais comercial. Pais e Filhos, canção de maior sucesso da banda, foi assunto durante uma participação da banda no Programa Livre, do SBT, em 1994. Antes mesmo de começar a perfomance, Renato disse: “Escuta. Vocês sabem que essa música é sobre suicídio, né? Porque todo mundo pede música da Legião e fica um auê, entendeu? Essa música é muito, muito séria”. Continuou: “Agora eu ‘tô' legal e tudo, mas eu estive muito mal na minha vida. Estive muito, muito mal. Eu gostaria de ter a idade de vocês e, de repente, ‘tá’ legal, mas não. Eu quase que joguei fora metade da minha vida, com sucesso, com tudo, entendeu?”.
O disco abre com ritmo descontraído e confiante, Há Tempos instala andamento. Feedback Song for a Dying Friend foi feita em homenagem ao Cazuza. Quando o Sol Bater na Janela do teu Quarto, tem ar de melancolia, mas é atraente ao mesmo tempo, Russo exala referências de dos seus ídolos, Johnny Marr, do Smiths. 1965 (Duas Tribos), é Rock e minha preferida do disco, juntamente com a linda Se Fiquei Esperando Meu Amor Passar.
Dentre algumas curiosidades do disco, temos a canção espiritual Monte Castelo, inspirada nos poemas I Coríntios 13 e Soneto 11, de Luis de Camões. A canção foi bem-recebida em Portugal, país que acolheu a turnê do álbum de casa cheia. A faixa 9, Meninos e Meninas, é um grito de liberdade de Renato Russo e de toda uma geração sufocada pelo preconceito. Mais uma curiosidade está na contracapa do disco, uma enigmática frase de Renato Russo: “Alguns erros são de propósito, outros não”, num texto cheio de referências à líderes religiosos. A frase é chave para entender essa obra-prima, que nasce de algumas dores e muitas alegrias.
Esta obra marca uma das melhores fases da banda.
Bora Bora
Que as músicas dos Paralamas são muito bem moldadas, disso não temos dúvidas. O vocalista e guitarrista Herbert Vianna, juntamente com o baixista Bi Ribeiro e o baterista João Barone, jogam em plena sintonia e as habilidades destes senhores são destacadas neste disco de 1988.
Bora Bora já nasceu bonito, o disco é bem pra cima, muitos metais e um bocado de influências de ritmos afro-caribenhos se fazem presentes. Com mixagem de Renato Luiz, Townhouse Studios (Londres), fotografias de Maurício Valladares e projeto gráfico de Ricardo Leite, o disco ainda contou com participações de outros músicos.
Beco, uma das músicas mais famosas dos 80’s, abre o disco. Bunda Lê Lê, um instrumental pra lá de atraente dá ritmo ao disco. Fingido é um bom exemplo de um Barone com som relaxado e bateria perfeita e Hebert narra a música de forma sensacional. Assim como no disco da Legião, que falamos semana passada, o Bora Bora também nos entrega uma faixa em inglês. O outro lado da bolacha começa com o hit Uns Dias, que foi apresentada aos fãs no final de 1987, quando ainda era intitulada como O Expresso do Oriente.
Há quem diga que as letras do disco tem muita influência num fim de relacionamento do vocalista.
Bora Bora pode, talvez, não ser compreendido por todos, afinal, foi a renovação dos Paralamas. No entanto, não há dúvidas de sua carga influenciadora, com todo Rock, Reggae, Ska e, claro, brasilidade. A fonte dos Paralamas é rica e ajudou muita gente a se inspirar em boas águas.
- Gui Freitas
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