Não cansamos de dizer que a proposta de terça-feira da Troque O Disco é mais do que essencial ao projeto como inteiro e, hoje, trazemos mais uma banda de Minas Gerais que tivemos o prazer de conhecer o som, trocar idéia e iniciar um contato que, com toda certeza, será muito construtivo para todos nós que vivemos inseridos nesse universo e somos, definitivamente, apaixonados pela música. A troca é boa!
Como dito, Minas Gerais cada vez mais se revela como um lugar muito especial para nós da Troque O Disco. Já trouxemos por aqui a maravilhosa e muito bem talhada Devise, o super mais novo trabalho da Verônica Magalhães e, hoje, pra completar essa trilogia mineira de muita qualidade, trazemos como assunto a Radiotape e toda sua essência!
Definitivamente, todos esses mineiros voltarão a aparecer por aqui pela Troque O Disco de tempos em tempos e, claro, todos eles contam com trabalhos na nossa playlist, Troque O Disco | Indica, em nosso canal do Spotify que, indubitavelmente, vale demais todo confere. É uma felicidade trazer todos eles pra cá.
Radiotape é uma banda mineira, arraigada em Belo Horizonte e conta com Bentes (bateria), Toxina (guitarra), Badaró (vocais e guitarra) e Brunei (baixo).
Badaró é de nossa geração, nascemos na mesma época, talvez a última que teve chance de viver a música com certo romantismo em sua integridade… Gravávamos fitas, tínhamos que garimpar pesado pra descobrir coisa nova e ainda preservamos o costume de valorizar a figura do disco. Damos toda devida importância diante da idéia de ouvir um álbum do início ao fim e, de tal feita, tentar capturar ele como um elemento inteiro, sistêmico e, se trouxer algum, como conceito. Foi assim, com muitas semelhanças perceptivas da música como um todo que nos identificamos logo de cara e iniciamos um longo e super agradável papo.
De tal forma, nostálgico à tais sentimentos, o nome Radiotape pareceu ser de grande valia ao que Badaró buscava, remetendo do que uma pequena parte de uma geração conseguiu viver nos primeiros passos dentro da música.
A idéia de ter uma banda foi inevitável, tendo em vista que seu irmão e seu pai foram grandes e, talvez, suas primeiras influências na música, além do fato da casa em que cresceu ter muita música em cotidiano. Aos 15 anos, começou engatinhar pelo universo da criação, compondo suas primeiras músicas. Desde então, a música foi extremamente essencial para Badaró não somente como estilo de vida, mas, também, como escape que buscava afim de amenizar a dor da perda do pai por essa fase, ainda aos 15 anos. Aos 22, Badaró, com um amigo, Caputo, de Ubá, interior de Minas, resolve desenhar as primeiras linhas do que viria a ser a Radiotape.
A banda teve contribuições através de diferentes formações. Além do já citado Caputo, Sapo, Sallum, Gabriel, Rapha, João Gabriel, Natana e Vinícius fizeram parte da jornada.
Com letras em português, o som da Radiotape consiste de misturas nacionais e internacionais. No primeiro trabalho, podemos ver traços de Lemonheads e Nada Surf. Em Novo Dia, já tendemos notar Skank, Roberto, Erasmo e Guilherme Arantes como referência predominante. No Enquanto os Outros Dormem, a banda tenta buscar uma sonoridade mais suja. A Radiotape se sente à vontade em transitar por novas possibilidades, o que, certamente, agrega ao crescimento e amadurecimento como banda.
Um trabalho que muito chamou nossa atenção foi o EP Luz, de 2016, que já abre com um riff de guitarra cheio de expressão e vigor. Luz, Capataz, Fotossíntese e Vou Seguir são faixas de muita qualidade, capazes de tornar o EP Luz num material veemente, com boas músicas do início ao fim, carregadas de influências britânicas que tanto adoramos, nomes essenciais do Britpop, tais como Cornershop e Oasis.
Independente do trabalho, é possível arriscar dizer que a coluna vertebral da Radiotape tem como referência o Power Pop, banhada por águas da fonte do Teenage Fanclub, que é uma referência de ouro, por muitos esquecida.
Atualmente, a banda engatilha novo disco, Canções Pra Sonhar, que traz duas faixas já disponíveis, Espelho e Sem Perdão. Badaró nos afirmou que a intenção continua morando na sonoridade de linhas britânicas como principal essência.
A intenção da Radiotape é da melhor possível, se traduz em realizar o som que fazem suas cabeças ao momento que vivem, sem se preocupar com rótulos, mas, também, sem lançar mão de suas influências de longa data. Por toda conversa com Badaró, conseguimos notar toda sua paixão pela música e a enorme vontade em continuar, principalmente, fazendo música. Ver que existem bandas que carregam essa verdade é incrível. Por todo o tempo que conversamos, foi fácil demais reparar um cara sedento por som, que pensa em fazer e ouvir música por todo tempo e, voltamos a dizer, vale demais frisar, que há muita verdade em sua intenção.
Durante a longa conversa que tivemos semana passada, falamos sobre som, sobre a cena, valores, sobre produção e mercado, além de trocarmos sons autorais, em que trabalhamos ao longo de nossas vidas para nos conhecer melhor e, certamente, tudo isso foi motivado por conta desse maravilhoso intento e verdade que se carrega. É legal demais, isso é coisa muito rara aos dias atuais e damos total valor à isso, não é nada arrogante dizer que somos uma espécie em extinção, realmente somos.
Radiotape, esperamos, vestidos da mais imensa sinceridade, que continuem trazendo suas verdades nas canções, independente de todas mazelas que o caminho da música nos obriga engolir à frio.
Se o entusiasmo que Badaró dedica à música seguir firme e, pelo jeito, com certeza irá, a Radiotape não vai precisar carregar nenhuma caneta Bic no bolso… afinal, daqui torcemos pra isso, para que a fita nunca embole, o Brasil precisa de bandas com essa vontade.
Gui Freitas e Gus Maia
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