Selvagem Demais.
Que patamar extraordinário atingiu o Rock nacional da década de 80, um bólido de bandas que trabalhavam em suas locomotivas a todo vapor. Hoje voltamos lá para o ano de 1986, a Legião lançava seu magnifico disco "Dois", Titãs amassava com "Cabeça Dinossauro" e o Paralamas do Sucesso chegava com “Selvagem", nosso prato do dia.
O disco “Selvagem”, terceiro da banda, chegava no verão com brilhantes 11 faixas e seus 41 minutos e 24 segundos, considerado um dos maiores lançamentos do Rock nacional de todos os tempos.
A capa do disco mostra o instinto selvagem e a independência da banda como forma de provocar, principalmente, a gravadora EMI, que relutou em lançar o projeto.
Com variações do rock alternativo, MPB e fortes influências jamaicanas, como o Ska, Dub e Reggae, acentuando o híbrido musical presente na obra dos Paralamas do Sucesso.
"Alagados", a faixa de abertura, talvez seja até hoje a canção de mais sucesso da banda, junto de ”Meu Erro”.
A terceira faixa, "A Novidade”, composta em parceria com Gilberto Gil, canta a desigualdade do mundo, de um lado tem o carnaval e, do outro, a fome total, trecho, infelizmente, ainda atual em nossa realidade.
“Melô do Marinheiro”, composta por João Barone, traz um momento de descontração para o disco.
”Selvagem", um hino de protesto, tem versos como "a polícia apresenta suas armas / escudos transparentes, cassetetes capacetes reluzentes / e a determinação de manter tudo em seu lugar"; será que isso poderia, também, ser atual aos dias de hoje?
Em sua reta final, o disco começa a fechar com chave de ouro, homenageando o lendário Tim Maia na canção “Você", em uma nova roupagem, bastante satisfatória.
O disco Selvagem é um grande petardo, não é por acaso que figura na lista dos 100 melhores discos da música brasileira, pela revista Rolling Stone.
Este clássico é importantíssimo para nossa música, além de fundamental para carreira da banda.
Década muito ensolarada para o Rock nacional. Semana passada falamos do “Selvagem”, disco de 86 do Paralamas do Sucesso, que forma trinca com "Cabeça Dinossauro" do Titãs e “Dois", da Legião Urbana, nosso disco de hoje.
A mais conhecida banda da história do rock brasileiro, uma das mais idolatradas.A banda sempre foi valente contra censuras, preconceitos e velha política.
Liderada pelo gênio Renato Russo,que morou nos Estados Unidos durante sua infância. Durante a adolescência, aproveitou seu tempo para devorar tudo que podia sobre cultura pop em geral. Renato, fã de Morrissey, reuniu os "lendários" Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos, na formação original.
Um ano após seu primeiro disco, a banda lançava o “Dois", que foi responsável para entrada no mainstream, transformando Renato Russo num letrista de referência, até mesmo para grande artistas.
Deste álbum podemos citar sucessos como “Índios”, “Tempo Perdido”, “Eduardo e Mônica” e “Quase Sem Querer”. A banda mantém a fórmula com letras contundentes, porém, sonoridade mais leve que o anterior.
"Tempo Perdido", surgia desde o início como um possível hino.
O disco ainda nos reserva algumas outras fortes canções. Bom exemplo é a faixa “Daniel na Cova dos Leões”, talvez revelando um pouco mais sobre a sexualidade do Renato, além de “Fábrica”, rock direto ao ponto.
A minha preferida do disco é “Andrea Doria”, uma balada depressiva sobre o fim de um relacionamento com toda sua desilusão e desesperança. Que disco, que banda.
Realizei um sonho de menino e fui a 3 shows da turnê que celebrava os 30 anos de carreira da banda, onde esse disco foi devidamente enaltecido.O talentoso e também fã da banda, André Frateshi, nos vocais, surreal, mas isso é papo para um outro dia.
Em suma, "Dois" foi o degrau de acesso da banda ao mega-estrelato, sedimentou o messianismo que seria atribuído a Renato pelos fãs. Todavia, tudo de bom e de ruim que aconteceu com os Legionários teve início ali. “Dois” vendeu 900 mil cópias. O nerd de óculos que vivia recluso dentro de um quarto cheio de colagens nas paredes, na tediosa Brasília, havia conseguido seu objetivo.
Fechando a trinca...
Nas duas últimas semanas falamos de dois clássicos lançados em 1986 e, hoje, fechamos a trinca com "Cabeça Dinossauro”, do Titãs.
A prisão de Arnaldo Antunes e de Tony Bellotto no final de 1985, por porte de heroína, o relativo "fracasso" do álbum anterior (Televisão) e a busca por uma sonoridade pesada, foram determinantes ao que estaria por vir.
Na metade daquela década, as bandas nacionais estavam visivelmente mais maduras em suas canções e não foi diferente com o Titãs. Com o Cabeça Dinossauro, a banda já não fazia musiquinhas pra animar festinhas, falavam de religião, política e da realidade social. Frugal, trazendo críticas oportunas perante instituições, é de nos trazer saudade dessa vitalidade Punk que o Cabeça Dinossauro carregava.
Com Liminha no comando, o Titãs decolou. A faixa-título traz elementos de um cerimonial de índios do Xingu. O show na época abria com esta, poderoso som.
Polícia, de Tony Bellotto, é uma resposta raivosa ao episódio da prisão. Uma pancada, que inclusive já foi cover do Sepultura. O disco é recheado de hits. Entre eles está Aa Uu, uma das minhas preferidas, além de Homem Primata. Bichos Escrotos foi censurada, mas mesmo assim as rádios a tocavam, sendo versão editada ou pagavam multa.
Mais da metade das músicas está na memória de cada brasileiro, independente de gosto musical. A banda era gigante em sua formação original à época e, com sapiência e criatividade, os caras canalizaram a insatisfação genérica que vinha sendo abafada desde a ditadura e que ressurgia naquele ano de 1986, ainda fragilizado democraticamente. O disco é um manifesto em protesto, com alvos em mira.
Com todas suas limitações, "Cabeça Dinossauro" é um discaço! Salve 1986.
Cheers.
-Gui Freitas
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