Mulheres que fazem a diferença, desempenhando papel vital com contribuições sociais, econômicas, culturais e políticas. Sempre na luta por um lugar melhor. Seguimos com nossas homenagens, em maravilhosa companhia.
O Dia Internacional da Mulher, com a consciência de hoje, é fruto de um longo e doloroso caminho, com muita estrada para ainda percorrer. Para ganhar o apoio das classes e gêneros, foi uma luta incessante. A batalha pelo direito ao voto e igualdade salarial soam como algo absurdo mas, infelizmente, para alguns, ainda hoje, em 2021, é questionável. Parece loucura, mas o mundo sempre foi cruel por sua natureza. Quantas eras foram necessárias para uma compreensão mínima, senso básico, humanidade?
Mediante isso tudo, com muita satisfação, trazemos uma guerreira de nossa música. De voz suingada e marcante, ela tem força enorme quando o assunto é a luta pela igualdade. Elza Soares é sinônimo de mulher forte. Com desafios além do gênero, viveu em extrema pobreza durante sua infância e é vencedora de inúmeras batalhas e tragédias.
Se casou com 12 anos, fez a primeira audição para uma rádio num programa de calouros, do Ary Barroso, aos 16 anos, conquistando o primeiro lugar. Em 1955, foi convidada a estrelar com Grande Otelo a peça Jour-Jou-Fru-Fru, que foi um sucesso.
Seu último disco, A Mulher do Fim do Mundo, é um álbum de inéditas, que tem muito a ver com a fibra da mulher, nos diz demais e é de grande ímpeto para nossa música. Elza escala músicos paulistanos bem mais jovens do que ela e essa química foi de suma importância pro resultado final. Romulo Fróes, músico-compositor se faz presente neste registro.
Com pegadas de Rock, Samba e até de Música Eletrônica, o disco se faz particular. Um grande destaque está para terceira faixa do disco, que tem tudo a ver com essa semana especial. Maria de Vila Matilde, narra a história de uma mulher guerreira que não sofrerá mais abusos e que, com a força feminina, é capaz de pôr um cara pra correr; ”cê vai se arrepender de levantar a mão pra mim”, Elza Soares dispara.
Quando lançou esse disco, Elza disse que não gosta de ser rotulada de sambista, que se considera a maior Samba-Rocker do país, talvez junto com Ben Jor. Como o título sugere, A Mulher no Fim do Mundo é uma prova de persistência. Precisamos de líderes de alma, conscientes, que falem com a verdade. Elza é do time.
O grito de Soares neste disco, por vezes, soa irônico e provocador. Parece conter um tanto das reviravoltas de uma vida que incluiu sobreviver a um casamento complicado, perda de um filho e do marido. Ainda jovem precisou lidar com muitas lágrimas e triunfos. Sem dúvidas, diante tudo, glórias e dramas, vingou uma carreira musical que se estende por mais de meio século, sólida.
Esse registro traz temas relevantes. São canções sobre a escravidão, raça, o apocalipse (pessoal e global), violência doméstica e uma transex suicida viciada em crack, com uma bala mantida entre os seios. É uma obra inspirada.
Considero que o Brasil deveria reverenciar por demais Elza Soares. Que mais artistas se inspirem com seus discos, que espalhem sua mensagem, compartilhem da sua luta. Que o mundo seja um lugar mais coerente e justo com todos, independente de gênero, cor de pele, posição social.
Viva Elza Soares, uma rainha.
- Gui Freitas
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