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Garotas no Front



No primeiro ano dos 00’s, eu descobri muita coisa: o bug do milênio era uma mentira, com 15/16 anos já dava para viver uns belos dramas e eu realmente não me encaixava no que o universo escolar esperava de mim.


Aos poucos – mas não sem muita briga digna de roteiro de John Hughes – fui descobrindo quem eu era e o que me deixava feliz de verdade.

Muito dessa força eu devo à música e à minha prima Luiza, que por sempre ter tido mais coragem e personalidade, aos 15 anos, sabia muito bem do que gostava.  

Foi ela que me apresentou o "Bricks are Heavy", disco da banda grunge L7, e aí começou uma fase de muitas descobertas e headbanging.

L7 é uma banda só de minas, aos berros cantando coisas como “You bring the monster in me” e ver os cabelos vermelhos da minha prima voando no ar a plenos pulmões me libertou.


Luiza me apresentou L7, que me levou pra Hole, que me levou para Bikini Kill e, enfim, eu tinha mulheres no Rock para amar, mulheres que finalmente compreendiam o que eu sentia na escola. Eu tinha finalmente parado de me sentir fora do eixo e encontrado companhia.

“All girls in the front!”, gritava Kathleen Hanna, vocalista da Bikini Kill e criadora do Riot Girrrl, movimento punk feminista nascido nos anos 90 que através de fanzines e grupos musicais deu voz para muitas mulheres.

À Hanna eu devo a construção do meu próprio feminismo e foi através dela que também conheci outras bandas do movimento, como Bratmobile e Sleater-Kinney.

Aliás, Carrie Bronwstein, guitarrista do Sleater-Kinney, tem muito em comum com Katleen Hanna além do óbvio. As duas começaram na música, mas sonhavam em ser escritoras. No excelente documentário “The Punk Singer” Katleen conta que um dia ouviu o seguinte conselho: “quer que conheçam suas ideias? Cante”. Para a nossa sorte, ela acabou fazendo os dois, assim como Carrie, que escreveu o excelente livro de memórias “Hungry Makes Me a Modern Girl”.

O livro, ainda sem tradução por aqui, conta um pouco do início do movimento Riot Grrl em Olympia, Washington, e o quanto ele tomou o país influenciando garotas como ela.

A publicação se junta à autobiografias como “Garota da Banda”, da Kim Gordon, “Face It”, da Debbie Harry e “Só Garotos”, de Patti Smith, como grandes histórias sobre mulheres do Rock.

Esses livros fizeram por mim a mesma coisa que o disco do L7 fez aos 16 anos: companhia. Elas me ensinaram sobre música, amor e o percurso dolorido e revelador de se tornar alguém.


Atualmente, o movimento ecoa através de bandas e cantoras como Courtney Barnett, Bully, Roberta de Razão, Ana Frango Elétrico, Shilpa Ray, além das próprias Bikini Kill, Sleater-Kinney e L7, ainda na ativa.

Quando o mundo parece opressor e as coisas apertam, ouvir essas mulheres continua me salvando da mesma forma que salvou aos 16 anos.


- Paula Gicovate

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