If I were a Carpenter
- Troque o Disco
- há 4 dias
- 3 min de leitura

Poucos discos tributo realmente mexem com o ouvinte. Muitos até demonstram cuidado e procuram honrar o legado, mas nem todos são ousados o suficiente para alcançar um êxito tanto para o homenageado quanto para os intérpretes das canções. Pois bem, If I Were a Carpenter conseguiu tal feito.
Matt Wallace — produtor renomado por trabalhos com bandas como Faith No More, The Replacements e Maroon 5 — uniu-se a David Konjoyan para realizar esta homenagem ao The Carpenters, grupo queridinho americano dos anos 70 formado pelos irmãos Karen e Richard Carpenter conhecido por suas canções românticas. O projeto teve como motivação principal marcar os onze anos da morte de Karen Carpenter (04/02/1983), vocalista e baterista da banda, cuja voz marcou tranquilamente três décadas, incluindo os anos 90.
Lançado no dia 13 de setembro de 1994, o disco teve uma curadoria cuidadosa e contou com releituras dos grandes hits dos Carpenters por grupos que estavam no auge do rock alternativo daquela época. Sheryl Crow, 4 Non Blondes, Sonic Youth, Grant Lee Buffalo e The Cranberries são alguns dos nomes que ajudaram a canalizar a essência das músicas em versões que, apesar de não necessariamente superarem as originais, e até parecer uma “sátira”, trouxeram imprevisibilidade e a personalidade de cada banda — o que torna tudo mais interessante.
Poucas bandas seguiram os arranjos originais à risca, o que, muitas vezes, é mais desafiador e até arriscado para a carreira. O American Music Club foi uma das que tentou, a versão intimista tem até seu charme, mas tiraram o solo catártico de “Goodbye to Love”, tornando o final da música algo lisérgico e dissonante — o que, pessoalmente, não curti.
Por outro lado, o grupo japonês Shonen Knife, as bandas Redd Kross, Dishwalla e os já citados Sonic Youth e 4 Non Blondes foram ousados, trazendo seus próprios arranjos com guitarras distorcidas e elementos do rock tradicional, sem perder a essência de faixas importantes como “Top of the World”, “Yesterday Once More”, “It’s Gonna Take Some Time This Time”, “Superstar” e “Bless the Beasts and the Children”. Para mim, esses são os verdadeiros destaques — e os que me motivaram a escrever sobre o álbum.
O mais interessante do disco é que ele é afetuoso, comovente e livre. As versões intimistas de The Cranberries e Sheryl Crow, respectivamente em “(They Long to Be) Close to You” e “...Solitaire”, assim como as poderosas releituras de Bettie Serveert em “For All We Know” e a parceria pós-punk/shoegaze de Marc Moreland e Johnette Napolitano em “Hurting Each Other”, mostram isso claramente. Com todos os artistas na sua própria vibe, trocando o piano característico por violões suaves ou guitarras distorcidas, com alternativas cheias do fuzz da época, evidenciam o resultado difícil de descrever.
Outro ponto decisivo é ouvir homens interpretando, em suas regiões graves de conforto, letras que estamos acostumados a ouvir nas regiões agudas da Karen. Embora nem todos sejam bem-sucedidos, o resultado é, no mínimo, interessante. Matthew Sweet é um desses e é ele quem traz o piano e a versão mais fiel ao arranjo original. Como não poderia deixar de ser, o álbum encerra com “We’ve Only Just Begun”, em uma das interpretações mais emocionantes deste clássico, na voz, orquestração e violões da banda de folk rock Grant Lee Buffalo.
É um discaço, dificilmente haverá outro tributo tão certeiro. Recomendo que as músicas de amor mais importantes da década de 70 entrem nos seus ouvidos com essa nova roupagem. Conheça também essas bandas “estranhas” do disco. Chorei ao escrever, e você vai entender o porquê ao escutar.
Kommentarer