Raízes britânicas com alma gaúcha
- Troque o Disco
- 15 de ago.
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Cachorro Grande 25 anos & Hurricanes em SP.
Para quem tem idade suficiente e acompanhou o auge da MTV no Brasil, ali pelo fim dos anos 1990 e primeira década dos 2000, talvez não precise de muita explicação sobre o momento do rock daquela época com forte influência do britpop, que de POP não tinha tanto assim. Mas para quem não esteve lá para ver e precisa de apresentações, em terras tupiniquins a banda que bebia desta fonte de inspiração, juntamente com referências claras de clássicos como Beatles, Stones e The Who, e alcançou o sucesso fazendo um “rock britânico com sotaque gaúcho” atende pelo nome de Cachorro Grande.

25 anos se passaram e a Cachorro Grande celebra seu 1/4 de século com uma turnê comemorativa rodando pelo país. Na última sexta-feira (08/08), eles trouxeram o canil para um showzaço no Carioca Club em SP e, como em toda grande festa, não faltaram hits, surpresas no setlist, energia alta e, é claro, convidados de alto escalão.
A abertura do show ficou por conta dos também gaúchos da banda Hurricanes, que fazem um rock de influência setentista provinda do mesmo canto do mundo das referências da Cachorro: a Inglaterra. Ao ouví-los, espere lembrar de Led Zeppelin, Free e The Faces, para citar alguns. Com um repertório completamente autoral de dois discos já lançados (e um terceiro a caminho!), a Hurricanes tem tido grande destaque no cenário nacional: foram a única banda brasileira a subir no palco do Best of Blues and Rock no mesmo dia que Deep Purple, foram escolhidos a dedo para homenagear uma das maiores bandas de rock no evento oficial brasileiro de seus 60 anos, o The Doors, abriram shows de grandes bandas, como a americana The Black Crowes, e tiveram o reconhecimento de veículos especializados, como a revista Rolling Stone.

Com um estilo bem definido, sonora e esteticamente falando, encontram nas raízes do blues e na década de ouro do rock, os anos 1970, sua maior matéria-prima: a eletricidade e a profundidade sonora que só os grandes clássicos do rock conseguem transmitir com elementos e textura modernos de uma banda que tem toda a tecnologia atual a sua disposição.
Compartilhando a mesma “base” do rock britânico, as duas bandas fazem suas mágicas de forma bem diferente. Enquanto a Cachorro Grande traduziu para os anos 90/2000 o vigor e a atitude do rock britânico, acrescentando influências de uma região rica em matéria de rock’n’roll, o Rio Grande do Sul, a Hurricanes resgata o espírito nostálgico das jam sessions, das distorções de guitarra, dos solos elaborados, da melodia específica do Hammond e da rouquidão dos vocalistas da época com um toque contemporâneo.
No palco, a grande influência se traduz em performances eletrizantes e emoções transbordantes. A Hurricanes encanta com sua sofisticação e respeito às origens, em uma apresentação impecável e autêntica que empolga e arrebata novos fãs por onde passa, e a Cachorro Grande mantém sua energia caótica e o rock rasgado que marca gerações há 25 longos anos. Entre uma sonoridade clássica e surpresas boas, o público foi levado pela nostalgia de uma elaborada e refinada qualidade musical e trazido de volta ao presente pela atitude irreverente e sujeira sonora em uma noite de energia surreal que só quem esteve por lá consegue descrever.
O tempo passa, mas o bom e velho rock’n’roll nunca muda.
Por Bruna Medina.