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Maio, 2012.



De vez em quando, gostamos de dividir com vocês a experiência de alguns shows antológicos que fomos. Hoje trazemos sobre um dos que conferimos juntos. Todo show carrega algo nos bastidores, tanto da banda, quanto do público. Os rituais pré-show da banda e do público fazem parte da magia da coisa toda.


A lembrança de hoje é resgatada dos idos de maio, 2012. Noel Gallagher aterrizava no Rio de Janeiro em fase final da turnê mundial de seu primeiro disco solo, com os High Flying Birds. Nunca escondemos que somos fãs fanáticos de british rock, britpop e, claro, Oasis. O primeiro show solo de Noel, sem a menor dúvida, seria, para nós, um evento em seu mais puro e elevado conceito. Nossa trupe de uns 10 ou 11 amigos, como um elenco digno da Champions League, já encaravam o dia com uma concentração diferente, com a cabeça em um horário fixo, a hora do show, apreensivos.


Como de costume, o fito inicial está no pré-show. A noite seria no Vivo Rio e, muito prudentes aos potes entornados, elegemos o clássico Belmonte do Flamengo (que fica próximo ao Vivo Rio) para passarmos aquela tarde maravilhosa dos nossos tão clássicos prés. Depois de insistentes e longos goles, decidimos tocar o barco pro Vivo Rio. A curiosidade imperava, afinal, era a primeira vez do Noel no Brasil depois do fatídico fim do Oasis, em 2009.

Nossa amizade tem muito do tempero da música, afinal de contas, olha o que estamos fazendo sempre… falando de música o tempo todo com vocês. São coisas que sempre falamos; “O Gui é um colecionador dedicado do Oasis, curte ir atrás de cada show histórico em vídeo desde os primórdios da banda, das demos, discos em diferentes versões, singles, camisas e objetos em geral. É o maior fanático por Oasis que já conheci”. - “O Gus tocava muita coisa diferente do Oasis com a Ladybird, banda que fez muito som uns anos atrás, fazia parte de uma rotina, também, para os amigos. Emprestei alguns vídeos e bootlegs do Oasis pra ele e, através disso, nosso assunto sobre música se tornou constante”.


Nós somos veementes colecionadores de música. Gostamos de sair juntos pra comprar discos físicos, livros, filmes, documentários, de garimpar, ir fundo. Somos obsessivos por som. Falamos disso o tempo inteiro, todo dia é a mesma coisa, chega a ser engraçado. Somos lotados de rituais. A música mexe com a gente de uma forma esquisita, talvez não seja nem um pouco normal. Melhor dizendo… definitivamente, não é normal. Somos fanáticos por som. Respiramos isso… ao longo do tempo, voltaremos a falar sobre essa nossa relação mais particular com a música, não nos perderemos sobre música dentro do assunto que é sobre música (e isso acontece direto)… olha que coisa de maluco! Voltando…

Cumprindo todo clichê da pontualidade britânica, sem um minuto de diferença ao horário gravado no ingresso, o baxinho rabugento, rei dos refrões, entra no palco. Abrindo o show com a dobradinha (It’s Good) To Be Free e Mucky Fingers, Noel se mostrava inspirado com seu novo projeto, muito mais entregue, dedicado e à vontade do que seus últimos 5 anos de Oasis em atividade.


Everybody's on the Run, If I Had a Gun e The Death of You and Me foram canções que ganharam muita força ao vivo. O Vivo Rio é um lugar relativamente pequeno para grandes shows. Na verdade, tem o tamanho ideal para receber artistas do mainstream. A atmosfera é demais, o som sempre é impecável e toda experiência acaba por muito positiva, o show é quente, o artista está próximo do público e não em quilômetros de distância, onde se revela aos olhos como um bonequinho do Jogo da Vida.


O público insistia pelo b-side Rockin’ Chair. Ao término de cada canção do espetáculo, emergia o incessante e sincronizado pedido pela canção. Até que, antes das três últimas canções da noite de gala do Noel, naquele clássico retorno da banda ao backstage, o som ambiente parecia estar ligado, mas era o público. Todos cantavam Rockin’ Chair em uníssono, como se um hino nacional fosse. Noel voltou para o palco e assistiu tudo aquilo, esperando o público terminar a canção do início ao fim. Visivelmente emocionado, ele, do palco, aplaudiu o público por um tempo antes de retomar o final do show.

O show foi impecável e o Vivo Rio foi sítio perfeito para o receber, o som estava fino tecnicamente, a tarde tinha sido perfeita e Noel Gallagher estava no auge da maturidade sonora, a banda soava muito bem entrosada. Novas abordagens foram de grande acerto, como, por exemplo, uma versão acústica da explosiva Supersonic. Além dos clássicos absolutos, conseguimos assistir outro b-side raramente tocado ao vivo, Let the Lord Shine a Light on Me… e em arremate final, Whatever, Little by Little e Dont Look Back in Anger. Avassalador!


Para fechar o enredo desse dia mágico que, até então parece ser somente de maravilhas, precisamos compartilhar algumas bolas pra fora. Sim, claro, nenhum capítulo será somente de maravilhas e gols no ângulo, a felicidade não é feita somente dos encontros e acertos.

Pouco antes de entrar, um de nossos amigos, que é irmão de outros dois amigos, perdeu o ingresso. São três irmãos que ficam enchendo o saco um do outro o tempo inteiro. Um deles perdeu o ingresso na porta do show. Estava instaurado o stress e caos. Foi um enredo até conseguir provar materialmente sua identidade, apesar de todos os documentos e sua presença física. Pois é, há excessiva burocracia, também, nos shows de Rock. Vale lembrar que foram litros de chopp e doses e mais doses de Gin com Tônica (numa época em que nos chamavam de loucos por tomar Gin, olha como o mundo dá voltas, hoje é a bebida da última e mais difundida moda). Chegou a hora do desenrolo de bêbados no resgate do ingresso. Enfim, decidimos que iríamos comprar outro ingresso já que a burocracia era enorme e a hora apertava. Pois então, o atendente saiu para imprimir o ingresso e, claro, sumiu do mapa. Desapareceu como orvalho em manhã que esquenta. Depois de um tempo, como uma lira na mão de um anjo, surge ele, com um ingresso re-impresso… e para deixar esse entrave com desfecho ainda mais saboroso, no dia seguinte, o ingresso "perdido" aparece dentro do bolso da jaqueta dele, no lugar mais óbvio. A vida do chapado é, realmente, muito difícil, acreditem.


Outro momento incrível foi protagonizado por um casal de amigos, também desse nosso mesmo time. Um deles ansiava por sua música favorita, o hit Don’t Look Back in Anger. O tempo todo esse nosso amigo falava que não via a hora do piano marcar aquelas primeiras notas e esperava, esperava, esperava muito por aquilo… seus olhos brilhavam à cada término de música, ansiando cada vez mais pelo momento de Don’t Look Back in Anger, que ficava, até então, para o final do show. Diante esse cenário, finalmente chegou a hora. Mike deu início à canção, tocando majestosamente aquela frase de piano quando; a namorada desse nosso amigo desmaia. Sim! Rolou um teto preto ao som do piano de Don’t Look Back in Anger!!! A expressão em seu rosto era puro desespero. Era pra ser o seu momento! Sem tragédias! Ele não sabia se cantava a canção com Noel, se pedia ajuda, se jogava a cerveja fora, se chamava uma ambulância e, ao som de Don’t Look Back in Anger, ele segurava a esposa completamente desligada nos braços. Ninguém entendeu nada. Todos nós ficamos sem saber o que tinha acontecido, sem reação. Em dado momento, de súbito, sim, absolutamente do nada, ela ligou o sistema operacional novamente e voltou à ativa, parecia que nada tinha acontecido com ela, que sorria com o olhar perdido. Pelo jeito, depois disso, ele deve ter ficado um bom tempo sem ouvir Don’t Look Back in Anger…


Mas é isso, pessoal! Espero que tenham curtido dessa lembrança, do mesmo jeito que adoramos compartilhar dela com vocês… e quem sabe, em qualquer dia desses, quando tudo voltar ao normal, nos esbarramos em algum desses shows da vida por aí!


Até mais!

- Gui Freitas e Gus Maia




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