Música sempre foi um norte. Remédio para saudade, apaixonamentos, euforia, trilha sonora de caminhada em Copacabana e rosto grudado no vidro da janela do ônibus da 1001 que me levava no trajeto Campos dos Goytacazes x Rio de Janeiro.
Quando já assumidamente escritora, com os pés fincados nas histórias inventadas pra viver (e dar conta) música também se tornou recurso literário, e de criação. Não consigo pensar em um personagem sem saber o que ele escuta, e todos os meus trabalhos autorais têm alguma referência a isso. “Este é Um Livro Sobre Amor” termina com “Pale Blue Eyes” do Velvet Underground porque eu queria que o leitor sentisse o abismo e a solitude que essa música me causa. E em “Notas Sobre a Impermanência”, meu livro novo, a música é quase um personagem extra.
O livro conta a história de uma tradutora carioca que se apaixona por um paulistano. O problema é que o objeto de desejo de Lia, a protagonista, é um homem casado, Otto.
O primeiro capítulo do livro se chama “São Paulo – I Never Wanted to Be Your Weekend Lover”, um trecho da música “Purple Rain”, do Prince, e já diz muito sobre o que vai ser descoberto nessa primeira parte. “Eu nunca quis ser seu amor só de fins de semana”, Lia pega emprestado do Prince para contar que ser amante não era lá o plano. Mas o desejo, sempre ele, essa batida de carro, esse acidente, não deixa ninguém impune, e Lia mergulhou com força nessa história. E uma das coisas que ela gosta nele, é justamente a relação com música.
“Ele me levou para dançar. Entre os muitos dons de Otto está o de tocar sempre as músicas perfeitas e achar festas que combinem com a nossa idade física e mental.”
“De casa ele me escreve, me manda mais uma música, e diz que não consegue dormir pensando em mim. Tenho amor e raiva, acho que bonito e covarde que ele viva desta forma, mas é justamente encarar meu vazio no início da manhã que me faz pensar que talvez eu esteja em um lugar melhor do que ele. A solidão é mais honesta do que deitar com alguém que não se quer.”
Já o capítulo dois se chama “Barcelona – This is What You Get” e é uma virada na história. Lia, cansada dessa relação, decide largar tudo e passar um tempo longe de Otto e de São Paulo.
É em Barcelona que ela vai se relacionar com outras pessoas, como um cantor de uma banda cover do Joy Division, e Daniel, vizinho da casa onde Lia mora. Daniel está sempre ouvindo discos dos anos 90, principalmente o “Ok Computer”, do Radiohead, banda que a Lia detesta, e que empresta a frase “This is What You Get” para o início do capítulo.
A construção da Lia passou muito pelas músicas. Um dos momentos chave do livro é quando ela ouve uma versão de “Sentado à Beira do Caminho” em Italiano, na versão da Ornella Vanoni, e decide puxar papo com o Daniel, dando outro rumo pro seu desejo. Embora o livro seja uma obra de ficção, eu também ouvi essa versão em Italiano em uma viagem, e a música me trouxe uma emoção tão grande que virou personagem do livro.
Para honrar o quanto música me inspira, e o quanto devo às trilhas sonoras da minha vida, fiz uma playlist com todas as músicas e bandas citadas no livro.
Link para playlist:https://open.spotify.com/playlist/6hM3ArjBMuGXxK0sbZ7UHD?si=d6c35a1e156442fb
É para você ouvir enquanto lê o Notas, para desaguar, para escrever, para lembrar de alguém.
Dança comigo?
-Paula Gicovate
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