Numa tarde de muito calor, decidimos fazer uma matéria especial para a volta do nosso site. Pensamos em uma banda que fosse extremamente especial para nós dois. Compartilhamos muitas bandas em comum e, principalmente, os seus lugares especiais. Diante tantas possibilidades, da bola que levantamos, The Stone Roses veio a calhar, paradigma total diante inúmeras vertentes que fazem totalmente nossas cabeças.
Como um time de futebol grande, a história do The Stone Roses é de glória desbotada, polida com ceras mágicas, questões e camadas. São performances irregulares, algumas frias, outras bíblicas, apoteóticas. Como no futebol, podemos notar que digerem tempo no silêncio de um deserto. Aqui escrevem dois alucinados por essa banda.
A história do Stone Roses é curta e longa, se podem nos compreender de alguma forma. The Stone Roses saiu em 1989 e o Second Coming, data 1994. O que veio depois foi toda carga influenciadora e o êxito absoluto diante do teste do tempo.
The Stones Roses tem efeito sobrenatural sobre seus fãs. Esse super grupo, liderado por ninguém menos do que Ian Brown, sempre inflamou nossas loucuras, religiosamente reiteradas, durante os últimos 8 anos. Rotineiramente, nossos primeiros goles eram acompanhados do som de Waterfall e, nos intervalos de jogo, I Wanna Be Adored.
O engraçado é que quase sempre justificamos nossas loucuras transferindo culpa para a base dos Stone Roses. Gessos dos tetos da varanda foram quebrados, cadeiras de ferro com mais de 10 quilos foram arremessadas, quebradeira total constante, além de uma infinidade de outras bizarrices inexplicáveis que costumamos viver ao som dessa banda. A birita sempre se potencializa de uma forma imensurável, vagamos por outros mundos. Para encarar essas feras, tem que ter pulso firme e um pouco de sorte pra se manter vivo. Maiores danos físicos e psíquicos são constantes perigos, mas sempre fez parte.
Cada ser humano leva um universo totalmente distinto dentro de si. Somos bilhões de mundos em um planeta só, onde compartilhamos, muito raramente, habitando genuinamente, apenas de vez em quando. Compartilhamos no automático as ruas, mesas, o tráfego da cidade, quartos e salas. Quando vivemos esse amor pelo som, por uma banda, por um disco… conseguimos compartilhar, talvez, o que seria o mais próximo de um lugar, realmente, comum. Mais ou menos aqui que nossas almas se conectam quase que plenamente. Longas conversas são travadas apenas no simples ato de ouvir o som, de abrir os portões da alma. Poucos entendem, mas quando rola, é de simples compreensão. Quem vive, sabe bem como é. Simples de aceitar. Simples de viver. Basta se deixar voar pra muito longe. Podemos nos perder por inúmeros caminhos, não tem o menor problema. É mais do que permitido, é o que sempre buscamos.
A importância dessa banda é inquestionável, até mesmo aos torcedores de nariz mais resistentes. Quem conhece a reconstrução da cena britânica, conhece muito bem Stone Roses. Em sentido oposto, é como conhecer do folclore e dispensar Robin Hood.
Ícones da cena musical de Manchester, pioneiros do tão idolatrado e explosivo Madchester, dados por uma mistura de guitarras jangly dos 60’s, com elementos eletrônicos dos 80’s, os Stone Roses foram voz de uma geração com apenas um álbum, justo de estréia. Junto com outros grupos do Madchester, como Happy Mondays, Inspiral Carpets e Charlatans, os caras revolucionaram a música Pop britânica, promovendo esforços às outras bandas contemporâneas, como, por exemplo, The Smiths, nos anos anteriores e posteriores.
Sem Stone Roses, não tenham dúvidas, não existiria Oasis, Suede, Blur e uma penca enorme de camaradas. Não se trata apenas de vários nomes. É sobre uma cena intricada e rica. É sobre re-influenciar nomes até mesmo anteriores ao seu tempo, é sobre catapultar e fortalecer uma cena que, posteriormente, se consagraria eterna.
Aos fãs ou não da banda, indicamos veementemente o documentário Made of Stone, dirigido por Shane Meadows, que retrata muito bem toda energia e impacto dessa banda. Em muitas oportunidades, enquanto ouvimos som juntos, na TV da sala deixamos shows, vídeos e documentários aleatórios, mesmo que não sejam diretamente ligados ao som ambiente que rola no momento. Não raras vezes, um de nós se flagra parado em frente da TV, até mesmo sentado no sofá e, por vezes, mesmo que de assunto totalmente diferente ao som ambiente, mergulhamos naquilo profundamente… só tem maluco, a vibe se alimenta até no mudo ou com um som totalmente diferente. Isso não pode ser normal, mas o importante é que temos plena consciência e não nos importamos. De qualquer forma, esse documentário é prato cheio. Garantimos que muitos dos que ainda não conferiram, ficarão como cachorrinhos na calçada, na frente de um forno lotado de espetos giratórios de frango.
Seria um grande sonho realizado se os Stone Roses conseguissem ter uma discografia mais extensa. É uma pena não terem atuado mais tempo juntos. De qualquer forma, o passo foi dado e apesar de enxuta, sua discografia é eterna.
Muito nos disse e dirá! Salve, Madchester!
- Gui Freitas e Gus Maia
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