Acompanhamos de perto os primeiros passos dessa maravilhosa banda de nossa terra, Rio de Janeiro, desde os idos de 2008. Em constante evolução, The Outs é banda indispensável aos apreciadores da boa música.
No início, a banda mergulhava profundamente em influências britânicas, sempre trazendo algumas canções autorais de extrema qualidade na sacola. Lá atrás, um dos primeiros sons que ouvimos da banda foi ”Bright New Rainy Day”, música nunca lançada oficialmente pela banda, junto com outras tantas que acabaram por ficar na coleção de alguns amigos. E sobre isso, já propomos por aqui, quem sabe, um lançamento promocional comemorativo de todas essas canções (maravilhosas) de gaveta! Ora, estamos ficando velhos, basta escolher entre edições de 10, 15, 20 anos… A pedra foi lançada!
Os shows da The Outs sempre foram muito marcantes, a banda sempre foi caprichosa ao vivo, de boa performance, mesclando, como de praxe em qualquer início, alguns covers e som autoral. Éramos dos únicos a cantar os refrões autorais lá atrás, mas isso durou muito pouco. As canções da The Outs logo eram cantadas em plenos pulmões junto com grandes clássicos incontestáveis e, quando isso começou a ocorrer, a banda conquistou algumas figurinhas marcadas em todos seus shows. Havia ali o início de uma conquista de público, a banda testemunhava, aos poucos, algum potencial crescente.
No entanto, o alcance dessa época era muito menor. Não existia plataformas difundidas como as de hoje. A coisa se propagava por e-mail ou algo do tipo e quem gostasse do som, transferia aquilo pra um CD virgem ou ouvia o que rolava pelo Youtube. Com certo prestígio e depois de construirmos uma carinhosa amizade, desde nossos primeiros encontros, a banda sempre nos mandava materiais atuais. Inclusive, aproveitamos ensejo para dizer que, nesta sexta, a banda lança som novo, “Ficar Bem”, que já fizemos audição e o que podemos adiantar é que é mais um tiro certeiro, música e letra que traz conforto nesse período tão triste que vivemos, sensação positiva que segue “Toda Essa Bad”, som anterior da banda, que também é de qualidade absoluta… é a música salvando mais uma vez.
Fizemos questão de mostrar o som da The Outs para todos nossos amigos e, a partir de um certo momento, principalmente entre 2009 e 2015, criamos um ciclo de amizade onde todo mundo se conhecia e falava de som por todo tempo. Armamos shows pelo interior e viramos noites malucas como se curtas manhãs fossem (a casa do Gui sempre foi aberta para essas loucuras, sem falar no tradicional aniversário, que traz sempre ótimas bandas tocando e, em uma edição dessas festas malucas, foi a The Outs que tocou). Vimos o "Spiral Dreams" e o "Marmalade Land” nascer pelos finais de semana na casa do Gabriel e sempre trocamos figurinhas em aprendizado mútuo.
A The Outs sofreu severas mudanças ao longo desses anos e foi se reiventando com o tempo. A banda participou do programa Breakout Brasil, da Sony, ponto que, talvez, tenha fagulhado início ao amadurecimento da idéia de compor em português. Outras grandes mudanças ocorreram com as saídas de Tiago Carneiro, que optou seguir pela esfera acadêmica e, também, a do Gabriel. A banda seguiu, ainda bem, com Dennis Guedes e Vinícius Massolar, que mantiveram firme o controle da nave.
"Enquanto o Futuro Não Vem”, de 2018, foi o último trabalho da banda, um discasso que, por vezes, nos faz constatar sobre como uma banda conseguiu colocar elementos de Bossa Nova, Clube da Esquina, MPB, Beach Boys, Tame Impala, Moses Gunn Collective e Britpop dentro de um único disco, sem forçar a barra, ficar exagerado ou artificial demais, mais um mérito absoluto da banda.
A The Outs, dos pequenos pubs pelas noites do Rio, chegou pra encarar uma seleta cena brasileira, começando a abrir shows pra gente grande, tocando em casas consagradas do país e no Lollapalooza.
A banda sempre manteve fortes critérios diante qualidade, de se entregar ao que faz com aquilo que carrega em mãos. Com muito pouco suporte e equipamentos, a banda consagrou ótimas canções em EPs de forte conceito, coesos e extremamente poderosos. Dennis sempre foi dedicado, passou a mixar e gravar as próprias canções com a banda e, com o toque de Rob Grant nas masters, tudo sempre chegou interessante aos nossos ouvidos.
Além de amigos queridos, vemos a The Outs como uma banda em constante ascensão. Como já dizemos, a banda se reinventa com o tempo e é justamente isso que os deixa cada vez mais interessantes. São músicos de mão cheia, verdadeiros artistas. Dennis é um valente, o sangue que corre na The Outs, o cara faz aquilo que ama, aconteça o que tiver de acontecer, é o motor propulsor da banda. Vinícius Massolar é um músico versátil, artista completo, estudioso e curioso por novos sons, novas idéias, inquieto. São duas peças que, ainda bem, continuam caminhando juntas. Não vamos nem falar em viver, mas sobreviver de música hoje em dia (e não, não é somente Brasil não, em qualquer lugar do mundo) é tarefa muito complicada. O mundo está cada vez mais louco e os valores não carregam o menor sentido, não guardam a mínima coerência.
Valorizamos demais os artistas que se continuam ativos e, em nossa minoria, que possamos seguir teimosos ao que nos importa. A vida é somente uma e passa rápido demais pra tentarmos ser aquilo que, na verdade, saberemos sempre que não somos e, muito provavelmente, talvez nem seremos plenamente. É questão mais que filosófica, mas, em termos mais simples, precisamos viver de nossa verdade. Quando olhamos pra The Outs, vemos a pura verdade materializada.
Nós dois que aqui escrevemos, levamos o Tiago, Gabriel, Dennis e Vinícius com muito carinho e consideração. Tempos bons os que vivíamos falando de som, sem ter que lembrar de toda mazela que está do lado de fora de nossas janelas. Tempos bons onde ir ou fazer um show, tocar num estúdio, estar por perto dos amigos e pegar a estrada era uma simples questão de logística… mas a peteca não pode cair. Quando tudo isso passar, voltaremos ainda mais fortes.
Não deixem de conferir o som da The Outs em amplitude horizontal e fiquem de olho no novo som que está saindo do forno nessa semana! Podemos garantir, vale a investida…
Gui Freitas e Gus Maia
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