Matita Perê foi gravado no final de 1972, nos estúdios da Columbia, Nova York. Com lançamento no final do primeiro semestre de 1973, o disco talvez tenha chegado serenamente quadrado aos brasileiros. Tom já era o Tom mundial, com prestígio absoluto. Matita Perê se transmite livre, nota-se que em seu conteúdo há um artista sem nenhuma amarra, experimentando a si próprio. O disco é sinfônico, o lado maestro de Tom floresce aos mais difusos aspectos e, num exemplo perfeito disso, a faixa Tempo do Mar.
Tom deixa um pouco da doçura da Bossa Nova de lado, o disco é lotado de momentos não tão serenos, como nas faixas The Mantiqueira Range e Crônica da Casa Assassinada. Matina Perê carrega consigo várias facetas. Ana Luiza, uma das canções mais lindas que tive o prazer de ouvir nessa vida, ameniza alguns momentos de tensão. Águas de Março, clássico absoluto, é capaz de elevar o pior dos espíritos.
A variante de temas do disco é interessante, a faixa título do disco parece uma mini ópera, tal como, a já citada Crônica da Casa Assassinada. É gritante o Tom alquimista de seus maiores talentos em Matita Perê. A reinvenção de um gênio, bem ao nosso alcance perceptivo. Tom, maestro arranjador, com horário de entrada e saída num escritório do Centro do Rio de Janeiro, preocupado com o aluguel, agora já soa como nota em um "tom" diferente, um Tom experimental, talhado ao que parece ter buscado. Indubitavelmente, Matita Perê é o anúncio oficial da maturidade da música de Tom Jobim, o início de seu apogeu absoluto.
-Gus Maia
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