A experiência de ir a um show do Bob Dylan
- Troque o Disco
- há 2 dias
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Bob Dylan é um caso engraçado. Parece que ele sempre existiu, sempre fez parte da cultura popular, quase folclórica. Ele pode ser mesmo um completo desconhecido e ao mesmo tempo extremamente pop. Tem um pé bem fundo no Jack Kerouac, Allen Ginsberg, canta com a alma endereçada de uma Nova York gelada do início dos 60’s, mas ao mesmo tempo fala comigo, aqui no sul do Brasil, quase na ponta oposta no mapa. Nunca me pareceu compor para ser algo universal, mas ele consegue, o danado. Quando tu vê, Bob Dylan tá lá, no teu dia a dia.

Perdi o Hype do filme “Um Completo Desconhecido”. Por diferentes motivos não pude assistir no cinema na época. E não quis baixar, não sou a melhor pessoa para isso, apesar de ter feito muito em anos passados. Sou da época do Kazaa, respeita a minha história. Quis esperar algum streaming, para poder no mínimo, ter uma boa qualidade de áudio e imagem. Sabia que valeria a pena. E, como clássico é clássico e vice-versa, segundo meu ídolo Mário Jardel, esse é um daqueles filmes atemporais.
O filme do diretor James Mangold, como todos sabem, é inspirado no livro “Dylan Goes Electric!" de Elijah Wald. Poderia ser em “Crônicas”, escrito pelo protagonista, mas aí precisaria entrar na mente dele e tentar traçar uma linha do tempo. Seria demais para nós mortais. O que mais gosto nele (e de algumas poucas cinebiografias musicais) é que retrata uma fatia da vida e carreira do artista. Não tenta fazer um compilado de tudo o que rolou, porque seria impossível.
Então, não vou falar de coisas técnicas, como a bela atuação de Timothée Chalamet, nem do sempre incrível Edward Norton, interpretando Pete Seeger. A fotografia é maravilhosa, algumas licenças poéticas aqui, ali e tudo certo. O longa fez o seu papel: levou as músicas do Dylan para a vitrine novamente.
Assisti ele em abril de 2012 em Porto Alegre. Foi o último show daquela tour brasileira. Pelo o que lembro, Dylan proibiu fotógrafos no Pepsi On Stage, que estava lotado com cerca de 7.500 pessoas. Como de praxe, não podemos fazer apostas sobre o que esperar dele no palco. Ele vai falar com a plateia? Vai tocar o que? Lembro em mais de uma ocasião naquela noite a música começar e o público sacar qual era só na segunda estrofe ou já refrão! Dylan faz (e muito bem) versões de suas versões. Parece algo especial para aquele momento. Mas essa é uma atitude dele. Nenhum artista desse porte ficaria brincando com o público assim. Dylan pode.
O pacote veio completo: It’s All Over Now Baby Blue, Desolation Row, Ballad of Thin Man, All Along the Watchtower, Like A Rolling Stone e um bis com Blowing in the Wind, num flerte com violino. Emoção total!

Um ícone estava ali, a poucos metros de nós todos. Um cara que passou por diversas transformações da sociedade, viu e viveu importantes momentos e escreveu sobre muitos deles. Bob Dylan entregou uma noite memorável. Digna de cinema!
Mateus Brites - @beatonrepeat
Músico e Publicitário
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