All Quiet on the Eastern Esplanade
Uma das maiores bandas do indie rock está de volta. Nove anos após o duvidoso álbum Anthems for doomed youth, The Libertines apresenta sua nova fase num belo disco que traz de volta a essência da banda que, no início dos anos 2000, foi considerada a resposta inglesa ao surgimento dos novaiorquinos The Strokes.
Antes das considerações sobre o quarto álbum da banda, trago para vocês como foi o lançamento do trabalho, que aconteceu nessa segunda-feira (8) na lendária Rough Trade East em Londres, onde estive pessoalmente para acompanhar o evento.
Para um público de 300 fãs, os 4 libertines apresentaram o novo disco, num pequeno palco dentro da loja . Todos os presentes receberam logo na entrada o vinil do lançamento.
Parecia um túnel do tempo, os bons tempos do rock, com fila ansiosa, e plateia eufórica a cada frase de efeito dos caras. Por duas horas, cada um teve a oportunidade de falar sobre o álbum e responder perguntas. Gary e John deixaram claro a felicidade com a fase atual, na qual, nas palavras deles, passaram a ter chance de mostrar suas músicas e ter opinião sobre o trabalho.
Destaque para Merry Old England, que fala sobre a situação imigratória atual no Reino Unido. Todos fizeram questão de elogiar a letra da música , e Gary fez um longo discurso sobre a necessidade de se aceitar os imigrantes. Foi o momento político e muito aplaudido Do evento. Ao final, o grupo fez um acústico tocando as músicas do álbum. Emocionante.
Sobre o álbum:
Demorou quase uma década para ouvirmos coisas novas do Libertines. Um longo tempo que, em dias de imediatividade musical e lançamentos mensais dos grandes artistas, pode ter apagado da memória do público a carreira anterior da banda. Formada Por Carl Barat, Pete Doherty, Gary Powell e John Hassall, The Libertines despontou no início do milênio com dois álbuns impecáveis, repleto de hits que foi a trilha sonora da galera do indie rock da época, e criou uma idolatria em terras inglesas, só vista antes por poucas lendas do rock inglês. Uma carreira meteórica, acelerada, movida por confusões e conflitos, somados a altas doses de álcool, cocaína, heroína e crack, que fizeram com que, em pouco tempo, a banda acabasse. A situação caótica da dupla Pete e Carl criou tesouros como Death on stairs, Cant stand me now, time for heroes, e outros clássicos essenciais do gênero, mas, por outro lado, determinou o fim com apenas dois álbuns e histórias surreais causadas quase sempre pelas overdoses do vocalista Pete Doherty, figura icônica do underground inglês.
Anos depois, a banda fingiu esquecer as brigas anteriores e se juntou, em troca de cachês milionários – dizem que para tocar no Hyde Park a banda recebeu incríveis 5 milhões de libras - para shows esporádicos. Havia uma legião de fãs ainda na casa dos vinte e poucos anos que esperavam por esse retorno. As idas e vindas culminaram com o lançamento do terceiro disco dos caras.
O resto da fama começava a se esvair. Faltaram hits para conquistar novo público, e o fanatismo juvenil anterior foi envelhecendo, assim como a banda.
A partir daí, novos projetos acabaram unindo os quatro integrantes, e trazendo uma calmaria que contradiz com o próprio nome da banda. Como disseram no evento dessa segunda, hoje eles são grandes amigos fazendo o que realmente querem na música. Além disso, O foco se dividiu com empreendimentos na cidade praia a Margate: um estúdio, um pub e um hotel.
Pete se casou e foi morar na França. Trocou as drogas pelos croissants, como costuma dizer nas entrevistas. Carl aproveitou a fase para abrir ainda outros estabelecimentos na praia com sua esposa, um café e uma casa de shows. A amizade estava de volta, mas os shows foram ficando cada vez mais regionais e em locais menores. Em 2022, estive presente numa tentativa dos caras de reviver o passado glorioso, com um show no icônico palco de Wembley, que acabou mostrando um público na faixa etária da própria banda, que não foi capaz de encher metade do espaço.
E, assim, chegamos à 2024. Após lançamentos de quatro singles, um novo álbum acaba de ser lançado. Difícil acreditar que, mesmo com toda a divulgação que vem sendo feita, o trabalho seja capaz de alcançar e conquistar novos ouvintes. Mas, para aqueles que, como eu, nunca esqueceram os Libs, o disco traz boas novas.
Ao contrário do álbum lançado em 2015, onde a dupla Pete e Carl parecia querer encontrar novos caminhos, dessa vez, os quatro, unidos – pela primeira vez todos integrantes aparecem como compositores – apresentam o que seu antigo público quer ouvir: clássicos Libertines.
Run run run, primeiro single, já mostra os ares renovados na produção sem perder a energia da fase inicial do grupo.
Oh!Shit vai ainda mais longe no tempo, soando como uma canção do início dos anos 2000, com a marca The Libertines, vista logo nos primeiros segundos com um riff de guitarra característico.
Ao longo das onze músicas presentes no disco, vemos ainda Mustangs, I have a friend e Be Young trazendo o lado rock mais expressivo das composições do Carl e Pete, e baladas que tem sido a marca de Pete Doherty em sua carreira solo, como Shiver e Baron’s Claw. Uma menção para a bonita canção Man with the Melody, de autoria do baixista John Hassall, algo inédito até esse disco.
Talvez não seja nenhuma reviravolta na carreira da banda, mas os Libertines demosntram fôlego renovado num álbum divertido para os eternos fãs dessa banda, que sempre estará na trilha sonora dos fãs de indie rock.
-Conrado Muylaert
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