23 de junho, 2013.
Foi impossível dormir na noite que antecedeu meu encontro com os caras. Havíamos marcado de nos encontrar no aeroporto de Guarulhos, por volta das da 10 da manhã. A passagem, em direção ao Rio de Janeiro, estava marcada para 11:15.
Antes de deixar o hotel em direção ao aeroporto, dei uma olhada nas redes sociais dos dois. Apenas alguns posts feitos durante a apresentação deles no evento do MAM. Num deles, Gary aparecia com uma garrafa de whisky na mão. Nada demais.
Lá fui eu. Cheguei bem cedo, a ansiedade era absurda. Por volta das 9, eu já estava no lugar marcado e cada minuto parecia demorar uma hora. Quando o relógio marcou 10 horas, meu coração foi a mil. Eles iriam chegar a qualquer momento... doce ilusão.
O embarque começou e nem sinal da dupla. Mandei SMS para os dois. Nada. Um início de desespero me tomava. Liguei para o tal empresário, que estava em Manchester.
Embarque finalizado e parecia que o sonho havia se tornado pesadelo. Fui no guichê da empresa aérea contando minha história e pedindo para alterar as passagens e incrivelmente solícito, o atendente conseguiu trocar para o de meio-dia.
O empresário me liga quase ao meio-dia. Dizendo que conseguiu falar com Gary e eles iriam aparecer. Uma pressão louca na minha cabeça, o cenário ali era pânico total.
No telefone, meus sócios diziam que seria o fim do pub. Uma vergonha total. Gary avisa por SMS que estavam a caminho. Não daria tempo. Mais um voo perdido, e, novamente, o atendente da empresa alterou nosso horário para as 13 horas. Todos da empresa já sabiam da história. Vez ou outra, um funcionário vinha a mim perguntar dos caras. Alguns eram fãs.
Perto das 13 horas, o telefone do Carl me liga. Era uma produtora cultural da secretaria de cultura de São Paulo; “o Carl teve uma overdose”.
Eu surtei quando ouvi aquilo. Ela me pediu alguns minutos, pois estava tentando acordá-lo. O pânico agora era, de fato, generalizado.
Ela liga novamente e diz: Ele disse que vai, mas precisa de um cigarro e uma coca-cola! - “Compra isso, menina!!!”, gritei, de imediato.
O gerente da empresa aérea me informa que o último voo seria às 15 horas. Ou eles chegavam em 30 minutos ou fim de conversa e, obviamente, eles não chegaram. Por telefone, a produtora dizia que já estavam num táxi, mas ainda longe de Guarulhos.
Corri para falar com o gerente. Ele dizia que não havia mais voo, não teria o que fazer para me ajudar. Quase chorando, parado na entrada de veículos, na área externa, quando o relógio marcou 15 horas, a menina liga novamente, dizendo que chegariam em dez minutos.
Por incrível que possa parecer, o gerente veio me falar que iria segurar o avião na pista por dez minutos.
Os caras chegam. Na verdade, a menina e o Gary. Me apresento aos dois. Nada do Carl. - “Ele tá desmaiado dentro do carro. É seu problema agora”, disse Gary, rindo.
Tirei ele do táxi e fui carregando até o guichê. Pra completar, ele não acha o passaporte. E a empresa permite que ele entre sem documento. Surreal.
Na polícia federal, deitou-se embaixo do detector de metais. Ele tinha acabado de comprar pão de queijo e refrigerante e caiu tudo no chão. Tive que lhe carregar novamente até o avião. Quando se sentou, começou a gritar. Que inferno. Vários passageiros começaram a reclamar. Mas o comissário de bordo veio em minha direção e disse que eu poderia ficar tranquilo, que eles me ajudariam em qualquer problema. Incrível. Vale a propaganda: voe Azul.
A viagem foi tranquila, ele apagou e não acordou nem no pouso. No aeroporto Santos Dummont, Barreto esperava a gente, com um isopor cheio de cerveja e destilados. Foi um grande alivio não estar mais sozinho com aqueles malucos. Na viagem de carro, Gary foi conversando com Barreto e Carl apagou novamente.
Quase nove da noite, o horário marcado do show, chegamos em Campos, diretamente na casa da minha irmã, que havia preparado um jantar para eles e ao descermos do carro, parecia que Carl, finalmente, tinha acordado.
Ao acordar, perguntou onde estávamos. Gary respondeu; "viajamos uma hora de avião, mais cinco horas de carro e chegamos".
Carl parecia não acreditar; “no regrets”, disse ele.
Gary se divertiu na casa da minha irmã. Tocou bateria, pandeiro, jantou e conversou com todos. Carl, por sua vez, ficou pouco tempo interagindo. Não queria comer nada, só banana. Pediu um violão e me chamou. Não sabia que músicas tocaria no show. Fez o setlist, caneta no papel. Pediu sugestão, sugeri: “Come Closer”.
Seria a primeira do set, que seguia com clássicos do Libertines, Dirty Pretty Things e carreira solo.
Chegamos no Under e Gary não queria ficar na sala privada que fizemos de camarim para eles. Foi logo se misturar com a galera.
O único momento em que me afastei foi quando me juntei aos Playmoboys para o show de abertura e assim que terminamos, voltei ao camarim.
“Não vou tocar mais. Vocês começam com guitarra e bateria, tocando Beatles? E agora eu vou lá só com violão?”, disse ele, irritado. Conversamos um pouco, e ele diz que vai começar o show.
No caminho, pega uma garrafa de whisky e bebe no bico. Até então, não tinha bebido nada.
Uma das coisas que mais me marcou foi a mudança do cara. Num momento, destruído, cansado, meio grogue. De repente, num instante, surge o rockstar no segundo em que ele pisa no palco. Emocionante. Surpreendente.
Após uma hora e alguns minutos de show, Gary vem ao meu lado e me chama para subir no palco. Fui sem nem pensar no que estava fazendo. Peguei o baixo e tocamos quatro músicas. Carl me pergunta: “sua banda sabe tocar qual música do Libertines?” - “Todas”, eu disse, mentindo.
Assim, ele chamou ao palco Léo, Israel e Barreto para tocar Can’t Stand Me Now. Antes de começar a canção, rolou algo muito engraçado. Gary fala para Léo, que iria tocar o baixo;
“Versão ao vivo”
Eu, sem noção, interfiro: “Não, versão original”
Gary insiste para Léo; “versão ao vivo, começa você!"
Insisto novamente para ser a versão original.
Léo me olha e com uma cara muito engraçada diz; “desculpa, Conrado. Entre você e Gary, vou com ele”.
Após terminar o show, os dois continuaram no Under, curtindo a noitada no meio da galera. Fotos e mais fotos, shots e cervejas. Naquele momento, o sonho se realizava.
Faltava a última etapa: levá-los até a porta de embarque para Buenos Aires, na manhã seguinte. Dessa vez, fui eu que apaguei e, quando dei por mim, já estávamos no Galeão. Eles ainda dormiram algumas horas antes de seguir viagem.
Que doideira...
- Conrado Muylaert.
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