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Heathen.






"O buraco hoje é mais embaixo! Trata-se de uma banda que nós dois somos viciados demais. É uma daquelas bandas que remeterá, quando estivermos velhos, inúmeras memórias do tanto que embalou as centenas de noites, conversas e loucuras. Ainda temos muita lenha pra queimar com Oasis, talvez até mais por minha parte, que pela do Gus, hoje divide os holofotes da inflamação com os queridos Macacos do Ártico.”


“Falar de Oasis é sempre especial demais, principalmente pelas tantas memórias afetivas. Dos amigos que tanto gostam de ouvir juntos, dos sons que fizemos por aí tocando suas escrituras maravilhosas aos banhos de cerveja e muito volume nos amplificadores, de tudo que essa banda remete. Oasis trouxe de volta o Rock Britânico às referências. Apesar do Gui ter jurado passar longos 3 meses sem ouvir Oasis, nunca ficamos uma noite bebendo juntos sem, em algum momento, rolar, nem que seja, uma faixa dessa banda. Tenho certeza que, quando eu ia pegar uma cerveja lá dentro, ele colocava no celular, baixinho, no lado do ouvido, alguma do Oasis. Acho que eu, Gui e Mayra (não necessariamente com pleno poder de escolha, principalmente pelo volume e espaço compartilhado) ouvimos mais Oasis do que o próprio Noel Gallagher.”


Esses honestos depoimentos abrem o jogo sobre nossa fixação por essa banda importantíssima para trajetória do Rock and Roll.


Lançado em primeiro de julho de 2002, pela Big Brother, Heathen Chemistry, é o primeiro álbum do Oasis com contribuição plena de Gem Archer e Andy Bell, que se juntaram à banda nos tempos do Standing on the Shoulder of Giants, seu antecessor, mudando drasticamente a sonoridade, de cara. O disco também marca por ser o último álbum a apresentar o baterista de longa data da banda, Alan White, que deixou a banda em 2004. Noel Gallagher, posteriormente, alegou que o compromisso de White com a banda não era adequado.


"Eu estava muito feliz com (o álbum) até recentemente, mas estou furioso agora. Terminei minhas partes três meses e meio atrás, e então passamos para Liam, que em três meses e meio, não fez nada. Apenas se concentrou em seu hábito de beber novamente. Está apenas vagando no momento". Esse era o clima naquela época, habitual para fãs da banda.


O título do disco, de acordo com Noel, veio de uma camiseta que ele comprou em Ibiza, com o logo "The Society of Heathen Chemists". Da mesma forma, o nome do primeiro single, The Hindu Times, originou-se de um logotipo de outra camiseta, que Noel viu durante uma sessão de fotos para a edição de 100 Greatest Guitarists, da GQ.


Heathen Chemistry trouxe à tona uma "nova velha" fórmula do Oasis. Liam tem espaço no disco, assim como os novos membros, Gem Archer e Andy Bell. O jogo para o Oasis começou a mudar depois deste registro, a sonoridade que já vinha se transformando demais desde o disco anterior, foi ficando cada vez mais sólida, reafirmada nos discos posteriores.


Talvez, por esse período, de 2000 até 2005, em termos de musicalidade em performance ao vivo, tenha sido a grande fase do Oasis. A banda estava muito bem encaixada, havia a maturidade conquistada pela banda e toda consolidação da extrema popularidade que alcançaram. Eram a grande banda do momento, a banda dos estádios lotados.


Heathen Chemistry é, definitivamente, também, muito influenciado pelo Rock norte americano, principalmente dos 70’s. As intenções de um som orgânico, cru, direto ao ponto, foram afirmadas e reafirmadas durante todo o disco. Em alguns momentos, parece ser uma banda tocando ao vivo, sem maiores overdubs e truques de estúdio. Soa tudo muito natural, o som de tudo está na frente, bem na cara. Além do mais, como mencionamos, essa fase da banda, no palco, era afirmativa demais. Os caras estavam dando conta do recado sem nenhum ponto fraco. Muito provavelmente, a principal intenção da banda foi, simplesmente, essa. Soar primitiva, orgânica, sem maiores ornamentações.


Para nós, que amamos essa banda do fundo do coração, nem cabe passar pelo tracklist. Apesar dos hits, o disco soa como um clube fechado. As canções desse disco não são tão, se podemos dizer, banalizadas. Aqui está um disco pra quem quer ouvir a essência de uma banda de Rock no auge de sua maturidade, com vontade de ser a maior banda do momento, experimentando o sabor da autonomia.


A época também ajudou o disco. Neste tempo, o Rock viveu um boom de bandas espetaculares. Era mar aberto, violento, cheio de ondas. Se você desse mole, um disco mais fabuloso do que acabou de ouvir, te engoliria. Era melhor não ficar de queixo frouxo, éramos surpreendidos sempre com um novo lançamento.


O Rock and Roll, esse senhor que ainda não completou um século, nunca vai morrer. Por mais que ele cambaleie, por aqui e ali. Apesar de não viver seu melhor momento, por inúmeras questões, sem vai continuar se reciclando. O Rock se recicla dentro de si. Precisamos voltar ao primitivo para buscar um tempero diferente. O Rock mais jovem e eletrônico tem campo aberto pro mais empoeirado e por aí vai um loop de infinitas combinações, como Tetris.


Podemos dizer que somos a geração que mais viu o tal do Rock and Roll mudar. Temos registros do passado, vimos o mercado mudar. Vimos os mais novos e os mais velhos ainda ativos. Vimos a evolução e os passos em falso. Isso é uma loucura e delicioso demais de viver, estudar, ouvir, sentir, acompanhar.



No caso de hoje, temos no foco uma banda do povo. Oasis é de todo mundo. Todo mundo conhece Oasis. Todo mundo sabe cantar inúmeras músicas dessa banda. Oasis é trilha dos mais embaralhados momentos. Trilha da vida dura, do estádio, da festa, do amor, do autoconhecimento, da eliminação de uma nação apaixonada numa copa do mundo. Oasis é uma das últimas bandas, pelo menos até agora, que foi capaz de agradar quase todo mundo.


Esse disco é especial, exatamente como todos outros da discografia. Não há favoritismo dentro do Oasis.



- Gui Freitas e Gus Maia

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