Começo esse texto dizendo que sim, vou escrever em primeira pessoa, pois afinal já são 7 edições de Lollapalooza na conta. Quando eu cheguei (ainda no Jockey) aquilo tudo era lama!
É incontestável que essa edição ficará na história. Pra começar, marcou o retorno dos grandes festivais após uma pausa de dois anos por conta da pandemia de Covid-19 e o que ninguém esperava, teve um dos headliners cancelados por um motivo muito triste, o falecimento do baterista do Foo Fighters, Taylor Hawkins.
Recebi a notícia no táxi que me levava de volta pra casa após a noite do primeiro dia de shows. Impossível descrever o misto de sentimentos. Da alegria compartilhada com o cara que distribuía o mapa na entrada dizendo: “que saudade que eu tava disso!” ao “puta que pariu, não acredito!”
O Lollapalooza foi de 10 a 0 muito rápido. A sexta-feira foi marcada por emoções já que logo na hora do The Wombats a chuva caiu sem dó, pegando todos de surpresa e interrompendo o show da banda. O fim de tarde foi perfeito com a onda experimental de Caribou.O som é daqueles que vai começando aos poucos, inserindo mais um elemento, mais um instrumento, deixando a música mais preenchida a cada segundo, sem contar nos efeitos luminosos que foram um show à parte.
Pra fechar, toda a marra de Julian Casablancas e The Strokes que abriram com The Adults Are Talking e emendaram em You Only Live Once pra pagar a conta de 2018 (ficaram devendo essa, foi inacreditável). O álbum novo tá muito bom e apesar do Julian estar especialmente falante (coisa que ele não é) o show dos caras nunca é unanimidade. Sabe por quê? Porque a banda só tem hit e a gente sempre fica com a sensação de que faltou tocar alguma coisa! Daria pra tocar mais umas três músicas ali no lugar do tanto de besteira que o Julian falou, mas confesso que curti mais o show desse ano do que de 2018.
O sábado prometeu clima ameno e entregou sol no lombo! DJ Marky tocou às 17h como se fosse madrugada. Pesadão do jeito que a gente gosta! Silva, Jão, Jup do Bairro, Emicida. Anota aí: o Brasil é um caldeirão de artista foda pra caramba! O show do Emicida foi uma obra de arte. Quem esperava hits mais famosos de Amarelo recebeu um espetáculo de rap com canções fortes, ativismo e muitos convidados. Rael, Drik Barbosa, Majur e Pastor Henrique Vieira emocionaram uma enorme plateia que ocupava o palco Bud.
Pra fechar a noite, a ex menina da Disney, Miley Cyrus, entregou voz, emoção e personalidade num belo espetáculo com participação especial da nossa número 1, Anitta. O público era majoritariamente de adolescentes que reconheciam suas canções na primeira nota, é verdade, mas o mar de gente era tão grande que parecia que todo o festival havia parado para vê-la…
No domingo a gente reuniu forças para um dia atípico. É possível substituir Foo Fighters em uma situação como essa? De jeito nenhum! O Festival acertou em fazer um palco plural e super brasileiro? Sim!
A chuva mais uma vez fez a gente perceber que a organização depois de 2019 tem um protocolo para casos de chuva e o evento ficou parado por um bom tempo por causa do risco de raios.
Marina Sena distribuiu talento, hits, carisma e sinceridade. Claramente deslumbrada e sem acreditar com o tanto de gente que escolheu ouvir sua voz, a artista fez um show lindo, leve e solto como uma tarde de domingo chuvoso e melancólico pedia. Fez a gente perceber que a música nos toca, nos une, nos inebria. A garota do interior de Minas conquistou Interlagos.
Mas o show do dia mesmo foi o do Black Pumas! Que homem, que banda, que show, meus amores! Os caras entregaram tudo! Não vou dizer que fiquei surpresa pois já curtia o som da banda, mas ver ao vivo e ter minhas expectativas superadas, foi espetacular! O duo formado pelo gostoso, talentoso and estiloso Eric Burton no vocal e Adrian Quesada na guitarrada arrasaram, com todo o suporte das incríveis backing vocals entregando esse soul psicodélico que dá vontade de escutar sem parar.
Gostaria te ver visto The Libertines? Gostaria. Eu vi? Não! Olha, a diferença dos anos anteriores pra esse (ainda mais depois desse gap) pôde ser vista na falta de disposição de um corpinho de 38 anos para cruzar todo o Autódromo de Interlagos em cinco minutos e correr de um show para o outro. O que antes era feito com muita facilidade dessa vez se mostrou extremamente difícil. O ritmo era lento e o movimento nada sexy.
Fechamos com o show especial comandado por um time brazuca de talentos como Planet Hemp, Emicida, Mano Brown, Criolo e tantos outros talentos dessa terra que apresentou lindamente o rap e outros ritmos brasileiros para todo o país em um show difícil de ser feito, mas muito bonito de ser visto e ouvido.
Foi muito bom voltar a correr (nem tanto) pela pista de Interlagos, fazer amizades verdadeiras com desconhecidos, reclamar da fila do banheiro, reencontrar amigos, desfrutar de São Paulo, cantar até perder a voz, no sol, na chuva, na alegria e na tristeza, tendo a certeza de que a música é uma arte necessária para renovarmos a nossa energia, a nossa esperança e a nossa capacidade de nos reunirmos para questionar, protestar e celebrar.
-Marina Bruno
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