Miley Cyrus conseguiu trazer uma onda nostálgica em seu novo álbum. Se em Plastic Hearts (2020) ela já conseguiu imprimir uma identidade nova que foi capaz de deixar muita gente de queixo caído, a impressão que fica é de estarmos presenciando o nascimento da nova musa do pop mais rock 'and' roll desde Madonna, agora ela mostra que o conceito de um álbum completo ainda faz sentido.
Com Endless Summer Vacation ela conseguiu em seus novos moldes vocais com drives e rouquidão (ela está cantando de uma forma muito parecida com a subestimada Lesley Roy), trazer tudo que era necessário para fazer a divulgada carta de amor a Los Angeles que começou a produzir em 2021 vir ao mundo.
É um deleite que fica entre beats eletrônicos dançantes que remetem ao pop dos anos 2000, misturado com baladas com boa carga emocional e instrumental impecável de sua banda, contrastando as letras que tem as últimas vivências traumáticas da cantora além da falada homenagem a Califórnia.
Fácil dizer que o hit massivo flowers é uma música extraordinária e ela ser a faixa de abertura faz o sarrafo ficar alto. Ela é a resposta frente a traição do ex namorado que teve como base a letra da bela música When I Was Your Man do Bruno Mars, saber disso conduz o ouvinte a pensar que não há nada que Cyrus possa cantar que supere, mas aí na sequência vem a faixa Jaded que é uma das melhores músicas pop que já escutei na voz da moça.
O álbum é bem construído e tem uma fluidez incontestável. Cyrus explicou que o álbum é divido em duas partes: AM e PM. A parte AM do álbum representa o "período da manhã, onde há burburinho, energia e novas possibilidades", ao passo que parte PM corresponde ao período noturno, que soa como algo "furtivo, sujo porém glamoroso ao mesmo tempo"
Temos também as parcerias que tem uma pressão significativa. Thousand Miles, feita em parceria com Brandi Carlie, soa como uma balada de alguma cantora do cacife de Christina Aguilera ou Pink, com um precioso arranjo de violão. Já a faixa Muddy Feet que Cyrus fez com a Sia é agressiva e com os melhores efeitos graves já presenciados no pop desde a estreia da Billie Eillish - pra mim é a mais forte do álbum.
Endless Summer Vacation tem grandes momentos como em Rose Colored Lenses, Violet Chemistry e o segundo single River. Os pontos baixos e menos inspirados ficam por conta de Handstand e Wildcard. Enquanto Island e Wonder Woman foram boas músicas para deixar no final, com essa última tendo um empoderamento potente num piano que traz uma intenção de hino, uma sensação que só faixas épicas trazem.
Miley Cyrus voltou a ter um reconhecimento e ganhou um respeito que em outrora era superficial. Com Endless Summer Vacation, a maturidade vai fazê-la crescer mais e certamente será a headline dos sonhos de qualquer festival que prestigie um trabalho de tanto bom gosto.
-Roani Rock
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