Como um grupo fechado, daqueles que você adoraria pertencer aos 17 anos ou, talvez, algo semelhante com seu grupo de comparsas, eles fazem música que não pode ser datada. Música que transcende época, gênero e direção. Com uma dinâmica visceralmente musical, muito naturalmente transparente, Kings of Leon sempre gostou de contar histórias, de marcar com bons riffs e, claro, fazer os pés baterem nos refrões, mesmo que em outro bpm.
Um trio de irmãos do sul dos Estados Unidos, em boa companhia, fizeram quebrar a banca em seu debut, Youth & Young Manhood, registro de 2003. Disco enérgico, com canções sobre álcool, prostitutas, travestis e muito mais além das barreiras. Soando como uma espécie de 'Southern Strokes’, contemporâneas, as músicas exibem uma linha tênue em riffage, harmonizações diretas ao ponto e bons refrões. Com o sotaque arrastado, Caleb Followill chega em algo muito perto dos 70’s em Joe's Head. O disco provoca sensações divertidas, é Rock and Roll sem firulas, pra ser ouvido em bom volume.
Nas portas do milênio da alta tecnologia, a banda parece ter saído de um Road Movie do Wim Wenders. Com franjas curtas na frente de longas madeixas, bigodes inspirados e roupas apertadas traduzem uma banda que entra quase que deslocada na cena que se erguia. Da cidade grande, The Strokes abriu convite para uma penca de bandas e discos eternos. Nascia algo gigante no início dos 00’s. Não seria exagero ou temerário dizer que, muito provavelmente, vai demorar um bocado pra outros ventos como desse tempo surgirem pela costa.
Por serem filhos de um evangelista, o sagrado e o profano ficaram em perspectiva. Kings Of Leon tocou com paixão e atingiu picos particulares. Em faixas majestosas, como California Waiting e Genius, por vezes, pode até lembrar algo do Creedence Clearwater Revival. Foi uma promessa forte do Sul.
Caleb Followill, certa vez, afirmou que o álbum foi escrito considerando meses de turnê e reflete impacto exagerado numa insistência em tocar. A verdade é que, como não raro, a banda não esperava tanto sucesso. O disco veio do nada, com expectativa modesta… no entanto, a questão é que explodiu e muito.
À medida que cada faixa passa, o ritmo contagia. Sempre há uma alegria em ouvir esse disco.
Se olharmos para a banda hoje em dia, podemos perceber, sem o menor esforço, que muita coisa aconteceu ao longo da já amadurecida carreira. Talvez não tenha sobrado muito do Rock simples e despreocupado, escancarado no Youth & Young and Manhood.
É evidente toda mudança da banda em sua trajetória. Este primeiro disco soa até mesmo estranho aos seus posteriores mais recentes. Não há nada de negativo nesse fato, muito pelo contrário.
A banda de 2003 é apaixonante. Como já dissemos, é visceral, convincente, o som é maravilhoso demais. Foi um fenômeno mágico ver uma banda garageira, com uma presença tão forte, nascer naqueles tempos dourados.
Produzido Ethan Johns, esse discasso saiu anteriormente na Inglaterra. Gravado em Los Angeles, no lendário Sound City, além de Memphis e Nashville, o disco captou muito do estilo de vida americano e sim, podemos dizer que esses caras alcançaram o tal sonho americano.
- Gui Freitas e Gus Maia
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